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Qua, 30 de Setembro 2015 - 14:48

Carlos Latuff vem à Cidade para ato em favor da liberdade de expressão

Sorocaba

Por: Diário de Sorocaba - 29/09/2015

O cartunista teve uma de suas charges utilizada em trabalho escolar que causou polêmica em Sorocaba

Conhecido em todo o mundo por suas charges polêmicas, o cartunista Carlos Latuff esteve, nesta segunda-feira (28), em Sorocaba, para participar de um ato de repúdio, organizado pela Apeoesp Sorocaba em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, contra a intervenção da Polícia Militar em um trabalho da Escola Estadual “Professor Aggêo Pereira do Amaral”. Antes de participar do ato, que começou por volta das 19 horas, Latuff esteve na escola, onde visitou os alunos que desenvolveram o trabalho "Violência Policial", baseado no livro “Vigiar e Punir", do filósofo francês, Michel Foucault, e utilizaram uma de suas charges, que fala sobre o tema. 

O professor de Filosofia responsável pelo trabalho, Valdir Volpato, afirmou que não esperava tamanha repercussão e afirmou ter recebido ameaças e ter tido o seu telefone celular grampeado. “Eu recebi bastante ameaça, bastante ofensa, tive meu facebook violado, meu computador, meu celular foi grampeado." Segundo o professor, o objetivo da atividade foi falar da obra de Foucault e não tratar mal o trabalho da polícia. Para Volpato, o fato de os alunos terem se manifestado em favor do trabalho mostra que ele fez uma boa atividade. “Significa que eu sou um bom professor e consegui cumprir o meu objetivo, que foi dar o conteúdo. Eles sabiam do que se tratava e não foram revolucionários de facebook.” Na visão do educador, a falta de conhecimento sobre a obra levou a polícia a julgamentos precipitados.

Em conversa com jornalistas, na tarde de ontem, Latuff condenou a atitude dos policiais e defendeu o trabalho desenvolvido pelo professor. Segundo o cartunista, a atitude da PM não foi surpresa, já que ele se diz ter uma “trajetória longa” de tentativas de censura por conta de charges relativas à polícia. “Vendo o meu trabalho sendo utilizado dentro desse contexto estudantil, me dá alegria, uma satisfação muito grande, porque a charge tem um papel editorial, ilustrar uma matéria, o jornal. Quando ela é utilizada por estudantes ou por professores, ela tem um papel vivo, torna-se uma imagem viva, então, a questão é: se a polícia está incomodada com essa imagem, é porque alguma coisa nessa imagem está certa. Porque, se é só uma charge, só um desenho, não precisava se importar”, afirma o cartunista.

Latuff também criticou o tabu com determinados temas, elogiou o ato e o trabalho desenvolvido e se mostrou indignado com a interferência da polícia no ensino. “A gente não pode baixar a cabeça, não pode ter temas que a gente não pode abordar. Eu acho que isso aqui é, acima de tudo, um ato de defesa do professor, dos alunos, dessa escola, mas também de um princípio; o princípio dos direitos humanos, o princípio da liberdade de expressão. Não é a polícia que vai dizer o que o professor deve ou não deve ensinar, ou questionar o conteúdo do ensino. Pelo amor de Deus, não tem condições um negócio desses!”

A charge utilizada pelos alunos foi criada por Latuff em 2013, após a Câmara Municipal de São Paulo resolver homenagear as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar. A imagem mostra uma caveira vestida de policial segurando uma caixa com um cadáver e os dizeres: “pelos relevantes serviços prestados”. A PM não gostou da referência feita no trabalho dos estudantes e, por meio de nota, afirmou que não queria acreditar que, em pleno século XXI, profissionais da área de ensino posicionem-se de maneira discriminatória “propagando e incutindo o discurso de ódio em desfavor de profissionais da segurança, estimulando seus alunos a agirem sem embasamento e os direcionando de acordo com ideologias anacrônicas, que em nada contribuem para a melhoria da sociedade”.

INQUÉRITO POLICIAL - Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Hugo Batalha, foi aberto um inquérito policial ontem para apurar o caso. Segundo ele, a atitude da PM, em divulgar o nome completo das duas alunas que fizeram o trabalho, viola o Estatuto da Criança e do Adolescente. “É proibido, não se pode expor o adolescente a situações de riscos dessa forma, isso é algo que a delegacia civil vai apurar.”

Para a coordenadora da subsede de Sorocaba da Apeoesp, Magda Souza, a escola tem liberdade para trabalhar os conteúdos historicamente acumulados e relacionar esse conteúdo com a realidade. “Portanto, o que se constatou no trabalho é uma realidade e, dentro da escola, tem de ter a liberdade de pensar e refletir sobre a realidade.” Segundo ela, o ato foi em defesa da democracia, da liberdade de cátedra e contra a intervenção da polícia nas instituições de ensino. 

PROTESTO - Na noite desta segunda-feira, a Apeoesp Sorocaba, em parceria com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, promoveu um ato em repúdio à intervenção da Polícia Militar na EE "Professor Aggêo Pereira do Amaral”. O protesto contou com a presença do chargista e ativista político Carlos Latuff, e, também, de outras entidades ligadas aos Direitos Humanos.

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