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Ter, 25 de Setembro 2018 - 15:36

Entidades repudiam atitude de vereador que retirou trabalho sobre tolerância de mural

Por: São Carlos e Araraquara - G1 - 24.09

 
Leandro Amaral e outros parlamentares foram até escola de São Carlos (SP) questionar trabalho. Petição de repúdio de professores e funcionários tem mais de 1,4 mil assinaturas.
 
Diversas associações e entidades que reúnem educadores manifestaram repúdio à atitude de vereadores que entraram em uma escola municipal de São Carlos (SP) para questionar um trabalho sobre tolerância sexual e religiosa. Um dos parlamentares chegou a retirar o material do mural. (veja as notas na íntegra abaixo).
 
Uma petição pública de repúdio de membros do corpo docente e funcionários da Escola Municipal de Ensino Básico (EMEB) Carmine Botta tinha mais de 1,4 mil assinaturas até a publicação dessa reportagem. 
 
Vereadores em escola
A ação aconteceu na terça-feira (18). Os vereadores Leandro do Amaral (PSB), Lucão Fernandes (MDB), Moisés Lazarine (DEM), Edson Ferreira (PRB) foram “fiscalizar” um trabalho sobre tolerância sexual e religiosa feito pelos alunos do 9º ano e Amaral arrancou um cartaz que estava no mural. O material foi colocado de volta pela escola.
 
Os professores do colégio CAASO disseram que a ação dos vereadores foi autoritária e uma forma de intimidação e agressão.
 
“Os vereadores devem, em suas atribuições, fiscalizar, porém, jamais tomar um posicionamento autoritário diante de qualquer ação, principalmente em relação a áreas que desconhecem e/ou que não atuam diretamente. Dessa maneira, fica evidente o uso da função para intimidar e agredir moralmente funcionários públicos que, em qualquer situação, têm o respaldo da lei como meio de proteção.”
 
O Centro de Professorado Paulista classificou o episódio de inaceitável. “Atos de intolerância e ausência de diálogo conflitam com a essência do ambiente escolar, de aprendizado, de estímulo à inteligência e ao pluralismo de ideias. A escola é, por excelência, o espaço da construção da Democracia, de conhecimento e respeito às diversidades presentes na sociedade.”
 
Em reunião em São Paulo, conselheiros do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) aprovaram moção de apoio aos professores e estudantes da escola contra o que chamou de “show de horrores”.
 
“Independentemente da motivação dos senhores vereadores para tal atitude, a investidura do cargo não lhes dá o direito de interferir, sob qualquer pretexto, no trabalho pedagógico da escola e atentar contra a liberdade de cátedra. É mais uma prova de como é necessário o trabalho contra a intolerância que atinge até as instituições que deveriam zelar pela pluralidade”, afirmou em nota.
O Conselho Municipal de Educação chamou a ação de truculenta e desrespeitosa. “Entendemos que é prerrogativa do Poder Legislativo fiscalizar, mas não se faz isso arrancando cartazes produzidos por alunos que estavam estudando justamente ética, respeito a diversidade ideológica, religiosa, cultural e de gênero. A Educação tem compromisso sério para a formação de cidadãos conscientes e reflexivos de seu papel na sociedade e isso se faz através de diálogo e não com violência.”
 
Após a publicação da matéria do G1 sobre a atitude dos vereadores, o chargista Carlos Lattuff, autor de um desenho que ilustrava um dos trabalhos se manifestou:
 
“Repudio totalmente a atitude dos parlamentares, inclusive o fato de terem arrancado um dos cartazes produzidos pelos alunos dentro da escola, em uma ação arrogante e autoritária. Estão corretos os alunos e alunas que realizaram esse trabalho escolar. Esse tipo de intimidação não vai nos calar.”
 
O chargista fez um desenho simbolizando o acontecido na escola. “Expresso aqui minha solidariedade aos estudantes da Emeb Carmine Botta e me coloco a disposição. Esse tipo de agressão não pode sair barato”, disse.
 
O que dizem os vereadores
Na semana passada, o vereador Leandro Guerreiro (PSB) disse ao G1 que retirou os cartazes e os levou para a sala da direção para ouvir a opinião dos professores e dos vereadores. Ele afirmou que não foi um ato violento e que faria novamente.
 
“Vou combater sempre o assunto sexual para as nossas crianças, eu não aceito. Ali na questão tinha apologia ao LGBT, porque tem bandeira no trabalho, e tem também a imagem de um cristão segurando a bíblia agredindo mulheres. Não é correto isso. Prega-se intolerância agindo intolerante? Isso não condiz com a realidade”, ressaltou.
 
O vereador Edson Ferreira (PRB) disse que é preciso respeitar a todos. “A gente não pode tirar o mérito das crianças, deve-se discutir intolerância nessa idade, mas há uma preocupação dos pais sobre o que se passa nas escolas, por isso a gente foi até lá. O trabalho é importante, é válido, mas é preciso ter uma preocupação com as crianças dessa faixa etária”, disse.
 
Para o vereador Lucão Fernandes (MDB), o trabalho feito pelas crianças conscientiza sobre preconceito. “Esse trabalho tem que ser feito, tem que se falar sobre preconceito, a gente tem que falar em casa com nossos filhos e familiares sobre o respeito. A gente tem que conviver e amar as pessoas”, declarou.
 
Já o vereador Moisés Lazarine (DEM) afirmou que foi em busca do diálogo e ressaltou que a imagem divulgada no cartaz é intolerante.
 
“Não se combate intolerância, com outra intolerância. Fascismo existe em querer apontar uma única religião como a responsável pelo preconceito. Lamento a postura da Secretaria de Educação”, disse.
 
Veja a íntegra das notas de repúdio:
 
Colégio CAASO
 
As professoras e os professores da Escola de Educação Básica Armando de Salles Oliveira (Colégio CAASO) vêm, por meio desta, repudiar veementemente a postura intolerante e agressiva dos vereadores Lucão Fernandes (MDB), Moisés Lazarine (DEM), Edson Ferreira (PRB) e Leandro Guerreiro (PSB), na terça-feira, dia 18 de setembro de 2018, frente ao projeto desenvolvido pelos alunos do 9° ano do EMEB Carmine Botta, em São Carlos, SP.
 
Acreditamos que o trabalho de docência inclui atuar na formação de alunos inseridos na sociedade de forma cidadã e consciente. Desta forma, discussões e desenvolvimento de projetos neste âmbito estão inclusos dentre os deveres pedagógicos.
 
Considerando o delicado período em que vivemos no país, com os crescentes e aterradores posicionamentos intolerantes e preconceituosos, a atitude tomada pelos supracitados edis reforça a necessidade de realizarmos diálogos e projetos - como o realizado e atacado na escola Carmine Botta - nos ambientes escolares. Reforçamos, assim, a importância do respeito à diversidade em todas as suas vertentes, uma vez que nossos alunos representam as sementes que plantamos para o futuro de nossa sociedade.
 
Os vereadores, como representantes dos munícipes, devem, em suas atribuições, fiscalizar, porém jamais tomar um posicionamento autoritário diante de qualquer ação, principalmente em relação a áreas que desconhecem e/ou que não atuam diretamente. Dessa maneira, fica evidente o uso da função para intimidar e agredir moralmente funcionários públicos que, em qualquer situação, têm o respaldo da lei como meio de proteção.
 
Assim, nos solidarizamos com professoras e professores, alunos e alunas, bem como toda a comunidade da EMEB Carmine Botta, pelo lamentável episódio de desrespeito à autonomia educacional garantida pelo estado laico e democrático que vivemos.
 
Apeoesp
 
A Apeoesp – São Carlos vem por meio desta declarar todo o apoio aos educadores e estudantes da Escola Carmine Botta em relação ao trabalho contra a intolerância.
 
Vivemos tempos difíceis, momento eleitoral onde a educação mais uma vez é aclamada pelo público como prioridade do Estado, e ao mesmo tempo vemos vereadores entrando na escola para censurar o trabalho de professores e estudantes que debatiam a intolerância.
 
Independentemente da motivação dos senhores vereadores para tal atitude, a investidura do cargo não lhes dá o direito de interferir, sob qualquer pretexto, no trabalho pedagógico da escola e atentar contra a liberdade de cátedra d@s professor@s.É mais uma prova de como é necessário o trabalho contra a intolerância que atinge até as instituições que deveriam zelar pela pluralidade.
 
O show de horrores continuou na sessão da Câmara, onde um dos vereadores responsáveis pela “visita” à escola relatou o ocorrido com argumentos absurdamente homofóbicos:
 
“Fui lá e arranquei os cartazes que fazem apologia à LGBT e que é contra o cristianismo. Cheguei arrancando, não rasgando. Levei o cartaz na sala da direção e passamos uma hora conversando e discutindo o assunto”.
 
Mas não acabou aí, o mesmo vereador faz críticas ao secretário de educação utilizando novamente a homofobia, isso porque o Secretário Municipal de Educação defendeu o trabalho da escola e a manutenção de um cartaz na exposição organizada pelos alunos:
 
“O secretário Nino disse que eu sou fascista. Ele deve ser um homossexual frustrado e não teve coragem de vir a público e falar. O secretário tem que vir a público e revelar para população que é gay”.
 
Repudiamos a homofobia, a discriminação racial, religiosa e qualquer tentativa intervencionista e de intimidação aos educadores, defendemos o respeito à diferença e o não à intolerância.
 
Conselho Municipal de Educação
 
O Conselho Municipal de Educação vem através desta, repudiar a ação truculenta e desrespeitosa de quatro vereadores são-carlenses na Escola Municipal de Educação Básica- Carmine Botta, no dia 18/09/2018. Entendemos que é prerrogativa do Poder Legislativo fiscalizar ações do Poder Executivo, mas não se faz isso arrancando cartazes produzidos por alunos que estavam estudando justamente ética, respeito a diversidade ideológica, religiosa, cultural e de gênero. Lamentamos profundamente que ideologias pessoais se sobreponham sobre a liberdade de cátedra dos professores. A Educação tem compromisso sério para a formação de cidadãos conscientes e reflexivos de seu papel na sociedade e isso se faz através de diálogo e não com violência
 
Centro de Professorado Paulista
 
O Centro de Professorado Paulista, regional de São Carlos, manifesta-se em defesa da Educação e do Magistério, reafirmando o seu posicionamento ao lado dos professores – sem pretender substituí-los em suas lutas – no tocante ao inaceitável episódio ocorrido na última terça-feira (18) na Escola Municipal de Educação Básica Carmine Botta
 
Naquela ocasião, a realização de um trabalho sobre respeito e tolerância religiosa e sexual desenvolvido por alunos do 9º ano foi alvo de insólita ação de alguns parlamentares, que acabaram por oferecer um exemplo de quão relevante e oportuna é atividade pedagógica contra a qual insurgiram.
 
Atos de intolerância e ausência de diálogo conflitam com a essência do ambiente escolar, de aprendizado, de estímulo à inteligência e ao pluralismo de ideias. A escola é, por excelência, o espaço da construção da Democracia, de conhecimento e respeito às diversidades presentes na sociedade.
 
Ao expressar apoio e solidariedade à direção escolar, à docente responsável pelo trabalho exposto e aos alunos da Emeb Carmine Botta, o Centro de Professorado Paulista espera que a racionalidade e o bom senso estejam presentes em todas as iniciativas do poder público e da sociedade relacionadas com a educação.
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