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Qua, 23 de Agosto 2017 - 18:51

Que geração é essa que espanca os mestres?

Por: Andrea Ramal

 
 
As agressões que os professores brasileiros enfrentam não são apenas físicas. Há relatos de ameaças, roubos, insultos, danos materiais, difamação e bullying pela internet. O caso da professora Márcia Friggi, espancada na segunda-feira 21/8 por um estudante, é um exemplo do drama que os docentes enfrentam no Brasil, primeiro colocado no ranking de violência contra professores, segundo a OCDE. O fenômeno não é exclusividade brasileira: em países como México, Chile, Argentina e Espanha, entre outros, existe a mesma preocupação.
 
Essas ocorrências são um sinal de colapso, não só no sistema educacional, mas sobretudo de colapso social, e coloca em xeque o perfil de jovem que estamos formando.
 
A professora Friggi faz uma síntese desoladora: “Somos agredidos verbalmente de forma cotidiana. Fomos relegados ao abandono de muitos governos e da sociedade. Somos reféns de alunos e de famílias que há muito não conseguem educar”. Ela ainda propõe uma reflexão, referindo-se ao aluno que a agrediu quando se revoltou por ser advertido na aula: “Esta é a geração de cristal: de quem não se pode cobrar nada, que não tem noção de nada”.
 
A análise é coerente com alertas de psicólogos contemporâneos que defendem que os pais estão outorgando poder demais para os filhos. Não estabelecer limites, quase nunca dizer “não” e fazer todas as vontades de crianças e adolescentes são ingredientes-bomba. Derivam na “síndrome do imperador”, um comportamento disfuncional em que os filhos estabelecem suas exigências e caprichos sobre a autoridade dos pais, controlando-os psicologicamente e podendo chegar, não raro, a agressões físicas. Pensando que dão demonstrações de afeto, os pais permissivos demais acabam criando pessoas egocêntricas, mimadas, com baixíssima tolerância à frustração, pouca empatia com os outros e dificuldade de lidar com figuras de autoridade.
 
Ao mesmo tempo, temos os desafios do próprio sistema educacional. O magistério é tão mal remunerado que não atrai talentos e quem entra não recebe a preparação adequada, leciona sem experiência, tem poucos recursos para inovar. É difícil conquistar os estudantes, desmotivados e indisciplinados. Quando o professor tenta manter a ordem, gera revolta. A sala de aula, em muitos lugares, se converte num campo de batalha. 
 
Por todos esses fatores, muitos professores adoecem e outros abandonam a profissão. Nos EUA, entre 2009 e 2014, a matrícula na formação de professores caiu 35% e, a cada ano, 8% da força de trabalho docente deixa a profissão. Segundo as pesquisas de lá, o salário não é a causa. O problema central é que eles não se sentem apoiados e não sentem as suas vozes ouvidas. No Brasil, apenas um a cada quatro professores tem menos de trinta anos e só 12% tem mais de 50. Em muitos deles o desabafo de ontem, da professora agredida, certamente também calou fundo: “Sinto-me em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros”.
 
Os efeitos desse fenômeno podem ser devastadores. Ter um bom professor em cada sala de aula é o coração do aprendizado de um país. Da educação de casa, precisa vir a formação em valores essenciais, como respeito e civilidade. É por isso que educar não é tarefa fácil, exigindo equilíbrio entre o amor e a disciplina. Reconhecer os problemas, em vez de justificar todos os comportamentos dos filhos, é o primeiro passo desse desafio.
 
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