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Ter, 02 de Julho 2013 - 15:33

Aprimorar a democracia para avançar

Afirma-se que o movimento é vitorioso. Mas quem é este movimento? Na verdade, todos nós saímos vitoriosos se a sociedade avança.

   As manifestações que ocorrem pelo Brasil dão visibilidade a questões que estão na pauta social há décadas, mas a forma como se desenvolvem provoca a nossa reflexão.

   É preciso afirmar a legitimidade das manifestações sociais. Entretanto, as atuais mobilizações não conduzem, como dizem alguns, a mudanças radicais no país. Vivemos hoje em um regime democrático no qual o direito de organização e manifestação está assegurado. Há greves e mobilizações, há negociações e resultados.

   Não se pode equiparar as lutas atuais com as que ocorreram no processo de democratização do país, após duas décadas de ditadura militar, quando estes jovens que hoje se mobilizam sequer eram nascidos. Naquele momento o que estava em xeque era a forma de organização do Estado, a reconquista das liberdades democráticas, o direito de emitir opinião, a legitimidade dos partidos políticos.

   Muitos destes jovens talvez não saibam, mas a ditadura criou dois partidos, proibindo os demais: a ARENA (Aliança Renovadora Nacional), que representava o governo e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), oposição consentida cuja existência, contraditoriamente, foi produto da resistência de uma parcela importante daqueles que se opunham ao regime autoritário.

   Os militares fizeram da condenação da política e dos partidos um forte instrumento de manipulação da opinião pública. O restabelecimento das ideias e das concepções que deram corpo aos partidos políticos brasileiros foi uma conquista democrática. A primeira eleição direta pós ditadura é relativamente recente (1989). Uma das candidaturas, que infelizmente não venceu o pleito, afirmou um caminho progressista para o Brasil. O presidente então eleito, Fernando Collor de Mello, contrariou a vontade popular e por meio da organização da economia penalizou a maior parte da população, por meio da escalada inflacionária e da imposição de políticas que beneficiavam a elite brasileira.

   Desde então, tivemos as eleições dos presidentes Fernando Henrique Cardoso (dois mandatos), Luiz Inácio Lula da Silva (dois mandatos) e Dilma Roussef, levados ao poder pelo voto popular. Não vivemos uma ditadura e, portanto, as manifestações não levam o país a uma mudança radical. Cada ciclo histórico deve ter sua análise própria e não podemos igualar períodos diferentes em nome de uma disputa política.

   O que ocorre é que os analistas focam excessivamente na situação da economia. Claro, devemos levar em conta a economia, pois um país responsável mantém a inflação sob controle. Mas também distribui renda e promove qualidade de vida para todos. Não se pode omitir a transição de mais de 30 milhões de brasileiros da linha de pobreza para a classe média e políticas inclusivas como a criação de empregos, o REUNI, o PROUNI, a política de cotas, a implementação do ENEM como forma de democratizar o acesso às universidades federais e tantas outras.

   Os jovens estão nas ruas porque querem mais e todos nós queremos mais. A utopia é o que move cada um de nós e o nosso projeto de nação. Ela nos impulsiona adiante. Mas é preciso lembrar que a nação brasileira tem 190 milhões de cidadãos que também devem ser levados em conta, e não apenas o que estão nas ruas.

   Afirma-se que o movimento é vitorioso. Mas quem é este movimento? Na verdade, todos nós saímos vitoriosos se a sociedade avança. Muitos outros movimentos sempre estiveram nas ruas lutando por um país melhor, por educação de qualidade, por reforma política, por 10% do PIB, 100% dos royalties do petróleo e 50% do fundo social do pré-sal para a educação. Por saúde pública, transportes de qualidade e pela reforma agrária, uma luta histórica pela qual muitos deram a vida.

   Condenamos a repressão policial despropositada contra as mobilizações sociais. Nós professores, já fomos muitas vezes vítimas desta violência. Nós estivemos nas ruas muitas e muitas vezes, mas nem sempre a mídia mostrou a real dimensão e os motivos de nossas mobilizações. Entre 19 de abril e 10 de maio deste ano realizamos três manifestações consecutivas com mais de 20 mil professores, mas os meios de comunicação optaram por dizer que atrapalhávamos o trânsito e prejudicávamos os hospitais. Em ocasiões anteriores, a APEOESP foi multada pelo Ministério Público em até 400 mil reais, por ocupar a Avenida Paulista. Dois pesos e duas medidas? Quem, afinal, está sendo tutelado?

 

Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da APEOESP
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

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