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Qua, 18 de Setembro 2013 - 15:50
A possibilidade apresentada pelo Governo do Estado de São Paulo de os professores (efetivos e admitidos em caráter temporário) poderem ministrar até 65 horas semanais em aulas requer uma reflexão de mérito, no tocante à qualidade de ensino, mediada pela valorização dos professores.
Entendemos que, no afã de resolver o problema da falta de professores (levantamento da Secretaria da Educação mostra que uma em cada cinco escolas possui pelo menos uma classe sem professor, em média), o governo erra. Erra, porque a resposta estrutural para resolver esse problema deve colocar como condição “sine qua non” uma carreira que convide o profissional a querer ser professor e viver com dignidade. Não dá para aceitar o tratamento dispensado aos professores nas escolas públicas: jornada estafante de trabalho, superlotação das salas de aula, infraestrutura insuficiente.
Quão contraditório seria aceitarmos esta ampliação da carga horária dos professores e, ao mesmo tempo, lutarmos pela implantação da jornada do piso, possibilidade para melhor prepararmos nossas aulas, planejá-las e termos a formação continuada no próprio local de trabalho. Outro ponto a ser ressaltado é o fato de que o professor não se aposentará com o salário referente às 65 horas, mas às aulas referentes à sua jornada.
Embora o professor não seja obrigado a assumir o acúmulo de 65 horas semanais, a ausência de aumento real de salários e a perda de seu poder aquisitivo pode levá-lo a isso, provocando ainda maiores índices de adoecimento na categoria e contribuindo para comprometer ainda mais a qualidade do ensino nas escolas estaduais.
Carreira, formação, salários, condições de trabalho (como o fim da superlotação das salas de aula e a aplicação da jornada do piso): este é o caminho da valorização do magistério e da melhoria da qualidade do ensino e não a sobrecarga de trabalho do professor.
Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da APEOESP