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Qui, 02 de Março 2017 - 19:36

Alunos são dispensados por falta de merenda em escolas de Campinas

E. E. Professora Rosentina Faria Syllos está sem sal, óleo e margarina. s próprias funcionárias fizeram doações; Prefeitura admite atraso.

Por: Luciano Calafiori e *Murillo Gomes - G1 Campinas e Região

 
 
Alunos da Escola Estadual Professora Rosentina Faria Syllos, do Bairro Conjunto Mauro Marcondes, de Campinas (SP), foram dispensados mais cedo, nesta sexta-feira (24), por falta de merenda. A mesma medida será tomada no turno da tarde na unidade que atende 565 crianças dos 6 aos 10 anos. De acordo com funcionários da unidade, a escola está sem sal desde o dia 2 deste mês, quando as aulas começaram, enquanto o óleo e a margarina passaram a faltar esta semana.
 
A Prefeitura, que por meio de convênio com o estado fornece os alimentos, admite atraso em mais três escolas do município. Por semana, a escola estadual utiliza sete quilos de sal, 20 litros de óleo de cozinha e sete potes de margarina, além de dez potes de requeijão. O requeijão termina nesta sexta-feira.
 
"A minha filha estuda à tarde, das 12h30 até às 17h, mas ela vai sair hoje às 15h, sem merenda. Ela só pode dispensar às 17h se a gente trouxer a merenda para as crianças, porque não tem mais nada para dar para eles", conta Ivi Cagnan Marangoni, dona de casa e mãe de uma aluna de 9 anos.
 
"Eu acho que é um descaso com a educação, porque as crianças, muitas delas vêm e comem na escola porque não têm dentro de casa. A gente não mora em um bairro nobre, então muitos pais não têm condições, às vezes eles vêm mais cedo com o filho para ele ter um café da manhã porque não tem em casa", lamenta a mãe de aluno Giovana Alcântara Martins. É o primeiro ano do filho dela na unidade escolar, onde  mãe estudou e tinha como referência.
 
A dona de casa Maria Madalena de Lara leva o neto na escola e disse que na semana passada teve que aumentar a merenda de casa, para que outros alunos pudessem comer. "Mandava biscoito [pacote] e suco de caixinha", disse ela.
 
A Prefeitura de Campinas informou ao G1 que atende 160 escolas estaduais e 248 municipais. Além desta unidade, outras três estaduais também estão com problemas de falta de alimentos no estoque.
 
"Os gêneros alimentícios são entregues nas unidades escolares semanalmente por rotas/região, houve um atraso dos fornecedores nas entregas de óleo e sal", diz a nota.
 
A administração informou, ainda, que os fornecedores realizaram as entregas e que o abastecimento está sendo normalizado nesta sexta.
 
Segundo a Secretaria de Educação do Estado, em relação às aulas, qualquer conteúdo perdido será reposto.
 
Sem papel higiênico
 
A instituição de ensino também está sem papel higiênico desde o ano passado, segundo as mães. Elas próprias fazem doação do item básico de higiene para uso da instituição estadual.
 
"Tivemos que trazer papel higiênico, porque não tem na escola desde o ano passado. Não é culpa da diretora, ela informou à gente que não tem mais dinheiro pra comprar, e o governo não manda mais. Ela tem que trazer burrificador com água, detergente, um paninho para poder limpar a carteira dela, porque não tem mais material de limpeza para limpar a escola", conta Ivi.
 
O G1 apurou no local que até os funcionários levam o própio papel higiênico.
 
Sobre a falta de materiais de limpeza e higiene, a Prefeitura de Campinas informou que esta responsabilidade é do governo estadual. Por meio de nota, o governo paulista informou que está comprando material para os alunos. Leia a nota a seguir:
 
A Diretoria Regional de Ensino Campinas Oeste está averiguando junto à escola os motivos pelos quais pais afirmam que há falta de papel higiênico na unidade, o que não deve ocorrer. Enquanto isso, a administração já providenciou a compra do material, que será encaminhado emergencialmente à unidade de ensino. Não há motivo ainda para que a unidade de ensino apresente falta de itens para limpeza. A escola, assim como outras unidades de ensino de Campinas, contam com serviço de limpeza por uma empresa terceirizada, que oferece tanto a mão de obra, quanto os materiais. Todos os kits escolares já foram entregues
 
Doações de funcionárias
 
Uma nova remessa de produtos alimentícios deveria ter chegado nesta quinta, mas a unidade foi informada pela Central de Abastecimento de Campinas (Ceasa) de que não haveria a entrega. Funcionárias do colégio chegaram a fazer doações para que as aulas não parassem, mas, segundo uma das funcionárias, o valor começou a ficar elevado.
 
“Pode parecer um ingrediente barato, mas é o essencial. Quando a merendeira falou que não chegou sal, eu disse que iria comprar 1 kg. Com a minha ingenuidade, pensei que seria como na minha casa. Mas, aqui é 1 kg de sal por dia”, explica a funcionária, que pediu para não ser identificada.
 
Para muitas delas é a única refeição do dia, ela só vai almoçar de novo no dia seguinte"
funcionária da escola
As prateleiras onde ficam armazenados os produtos em falta, na cozinha da escola, estão vazias. Segundo a funcionária, se a unidade continuar sem os ingredientes, logo o café da manhã dos alunos também será prejudicado.
 
Aula reduzida
 
Nesta sexta, cada aula terá tempo reduzido de 50 para 40 minutos, e os estudantes serão dispensados com uma hora e 30 minutos de antecedência. As aulas do período matutino acabaram às 10h, enquanto os alunos da tarde serão dispensados às 15h30, antes do horário regular.
 
Segundo a funcionária, o almoço é essencial porque a escola atende uma região carente da cidade. “Para muitas delas é a única refeição do dia. Ela só vai almoçar de novo no dia seguinte".
 
"Temos o projeto ‘Merenda certa no horário certo’, e aqui são todos os dias a comida e todos os dias o café da manhã. Por enquanto, não tem merenda nem fora do horário, vai ser o projeto sem merenda”, diz.
 
Recomendação econômica
 
Conforme apuração do G1, a escola recebeu uma orientação da Ceasa sobre como preparar os alimentos com a falta de ingredientes. Dentre as recomendação, estaria a utilização do sal, que está em falta.
 
“Estão nos dizendo para fazer o arroz com um sal que não existe [...] disseram pra substituir o óleo pela margarina, mas a gente usa muita margarina para o café, e não tem como”, conta a funcionária.
 
Por enquanto não tem merenda nem fora do horário, vai ser o projeto sem merenda
Diná Carolina Viana Bohn, diretora
A escola segue recebendo normalmente o restante dos ingredientes, como as carnes.
 
“A carne é o mais caro, mas continua vindo. Eu estou com o freezer cheio de carne, tive até que cancelar, porque iria ficar aqui [...] A gente não sabe por que estão faltando os outros produtos”, diz a funcionária.  No final de 2016, alguns ingredientes também ficaram em falta, como o alho.
 
“No final do ano sempre dá uma diminuída, mas nunca chegou a esse ponto. É até normal eles diminuem o estoque. Nunca aconteceu no começo do ano, esse é o problema”.
 
A escola não terá aula na próxima semana, devido ao feriado de carnaval, e a esperança é de que a questão volte ao normal neste período. “É até bom que não vamos ter aula. É semana de planejamento, então esperamos que isso se resolva”, diz a diretora.
 
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