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Sex, 13 de Abril 2018 - 16:12

Apoiadores desistem e audiência pública é tomada por discursos contrários ao 'Escola Sem Partido'

Por: Tom Oliveira - A Cidade ON - 12.04

 
Professores, estudantes e manifestantes se unem e lotam Câmara na intenção de barrar projeto em Araraquara
 
Um dos maiores públicos da história recente da Câmara de Araraquara. Plenário, plenarinho e todo o saguão de entrada do prédio tomados por pessoas. Professores, estudantes, sindicalistas, políticos e manifestantes contrários e a favor do projeto conhecido como "Escola Sem Partido" participaram, na noite desta quinta-feira (12,) de uma audiência pública na cidade.  
 
O encontro foi realizado para debater a implementação do projeto em Araraquara. A iniciativa foi dos vereadores Lucas Grecco (PSB) e Élton Negrini (PSDB). Apesar de ser considerado inconstitucional pela comissão de Justiça da Câmara, os parlamentares organizaram o debate na cidade para ver a aceitação ou não da iniciativa.  
 
Entrada congestionada 
Muita gente foi para a Câmara tentar o ingresso dentro do plenário e houve muita discussão na porta de entrada. Manifestantes contra a medida, maioria no local, tentaram evitar a entrada do grupo a favor. Uma multidão se aglomerou nas escadarias. Houve gritos de guerra e cartazes de ambos os lados, mas não houve agressões.  
 
Quem não conseguiu o acesso ao plenário e ao plenarinho da Câmara assistiu à audiência no salão de entrada. Boa parte do tempo houve gritos e aplausos a cada um dos discursos proferidos no andar de cima. 
 
A audiência 
Além dos vereadores, a mesa do debate foi formada pelo professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Fernando Penna, um dos maiores pesquisadores do tema no País.  Ele citou que dois professores em Araraquara foram denunciados por usar textos históricos em sala de aula e levantou o questionamento sobre os motivos disso e sobre o próprio nome do projeto. "A grande questão não é se é com ou sem partido, mas se é com ou sem educação. Para mim é um projeto de escolarização que remove o caráter educacional e que está presente não só no projeto como no discurso que leva a esse tipo de denúncia", comentou.  
 
Penna também defendeu a liberdade dos professores, dentro de sala de aula, para problematizar e discutir com os alunos os dilemas da atualidade. "Os alunos trazem os debates para a sala de aula e eu não posso imaginar um professor que não possa discuti-los", argumentou.  
 
Sem debate 
A estudante de Direito Stéfany Papaiano, de São Paulo, participaria da mesa também, mas optou por não entrar no debate. A audiência foi paralisada por cerca de 10 minutos para que ela pudesse entrar, mas ela preferiu não subir. Os demais debatedores favoráveis ao projeto também não foram. Assim, não se ouviu no púlpito da Câmara os argumentos em defesa da implementação da medida.  
 
Em entrevista à imprensa, ela criticou a organização, explicando que não quis subir e deixar outros apoiadores do projeto no saguão de entrada. "Quando uma pessoa é divergente dentro de uma corrente ideológica em um ambiente polarizado ela não pode falar. Já vi isso acontecer. Se for para não falar lá em cima, eu falo aqui embaixo. [...] Não vi razão para subir porque não ia subir ninguém. E não para de subir gente. A gente não pode subir. Só eles podem. Foi basicamente isso que aconteceu", explicou.  
 
Em defesa do projeto, ela afirmou que a iniciativa visa colocar uma placa nas salas de aula dizendo os direitos do pais e alunos e dos deveres dos professores "que é de não cooptar alunos para manifestações porque isso é abuso e também [o dever] de apresentar as principais correntes ideológicas, políticas, partidárias e econômicas", justificou, apontando ainda que o projeto não prevê que o professor deixe de emitir opinião, mas apenas que ele deixe isso bem claro quando for uma opinião pessoal.  
 
Professores e alunos unidos contra o projeto 
Como não houve a participação de defensores do projeto, os contrários se revezaram no púlpito. Além de professores da Unesp, também participou Maria Isabel Noronha, presidente estadual da Apeoesp, o sindicato dos professores. Ela lembrou que esteve em debates sobre o tema nas cidades de Limeira, Sorocaba e Jundiaí recentemente e que a Apeoesp conseguiu barrar a aprovação.  
 
"Eu acredito que nós podemos perfeitamente vencer o Escola sem Partido [...] Nós professores temos o domínio. Como é que eu vou ser amordaçada e como é que dentro da sala de aula vão me impedir de falar? Tem que ter desobediência civil. Porque se não tiver não adianta. E não é com quebradeira. Desobediência é vir para o plenário e fazer o debate", afirmou, sendo apoiada pelos demais docentes.  
 
João Pedro Mendes de Souza, aluno da Escola Estadual João Batista de Oliveira, afirmou que o projeto em debate quer evitar que a sala de aula exercite a pluralidade de ideias, o que a lei garante. "Se esse projeto for aprovado, professores serão amordaçados e os alunos também [...] Nem professores nem alunos poderão debater entre si e os professores não poderão mostrar aos alunos os pontos de vista de variadas formas", comentou.  
 
Ex-alunos, estudantes universitários, professores e vereadores também defenderam a não aprovação do projeto em Araraquara. Em vários momentos o vereador Lucas Grecco solicitou a fala de algum defensor do projeto, mas ninguém se predispôs a falar.
 
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