APEOESP - Logotipo
Sindicato dos Professores

FILIADO À CNTE E CUT

Banner de acesso ao Diário Oficial

MANIFESTAÇÕES CONTRA A BAGUNÇA DA S.E.

Voltar

Seg, 07 de Dezembro 2015 - 21:49

Conquista do movimento estudantil é embrião para novo modelo de ensino público

Especialistas avaliam que, na luta contra reforma, alunos mostraram a escola que querem

Por: Ana Ignacio, do R7* - 05.12 *Colaborou Plínio Aguiar, estagiário do R7

 

Após quase um mês de ocupações em escolas, os estudantes secundaristas do Estado de São Paulo conseguiram ser ouvidos. O movimento contrário ao fechamento de unidades e à reorganização da rede dividida por ciclos únicos, chegou às ruas no início desta semana. Na sexta-feira (4), o governador Geraldo Alckmin anunciou a suspensão do projeto de reforma. Para os alunos e especialistas ouvidos pelo R7, no entanto, esse é apenas o primeiro passo de um processo muito maior.

Mais do que barrar a reorganização apresentada pelo governo, os estudantes querem um novo formato de ensino, uma nova escola. Alunos que participaram de ocupações no Estado declararam que aprenderam mais nesses dias do que nas salas de aulas durante todo o ano.

Para Tereza Peres, diretora da ONG Comunidade educativa Cedac, essa onda de manifestações abriu uma “porta de transformação da educação brasileira”.

— A reorganização foi um mote para que eles se organizassem. A escola é deles e acho que eles puderam vivenciar uma escola viva, com experiências de vida significativas, experiência de trabalho coletivo, cozinhar junto, tomar decisão conjunta. Eles abriram uma porta que estava para explodir. O ensino médio está muito ruim há muito tempo, é uma manifestação de insatisfação com a educação.

Para Tereza, os alunos mostraram o tipo de escola que eles querem.

— Eles querem uma escola com mais cultura, com mais energia, com mais experiência.

Tereza acredita também que essas manifestações vão modificar a forma dos alunos se relacionarem com o ambiente escolar.

— Vão voltar muito diferentes, a relação com os professores, com a direção da escola vai ser outra. Não vai mais caber uma escola quadradinha.

 

A professora de sociologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, Rosemary Segurado, concorda e diz que “os alunos deram um show de protesto”. Para ela, os jovens mostraram que não estão apenas interessados em uma solução imediata.

— O governador falou em suspensão e não em revogação, portanto, as manifestações ainda hão de surgir. Enquanto isso, os alunos mostraram que são um movimento legítimo, ocupando as escolas, ampliando os atos.

A docente destaca os impactos de toda a série de ocupação e de protestos.

— Os estudantes apresentaram não somente a indignação com a ideia de ter uma reorganização escolar. Eles querem uma mudança escolar que está representada por uma reparação da grade horária, discussão da superlotação de salas, além de pedir um melhor aproveitamento do espaço escolar e da metodologia que é ensinada.

Para Rosemary, outra grande conquista do movimento estudantil foi que a escola, vista como espaço público, foi tomada.

— Os jovens demonstraram cidadania defendendo as escolas com protesto de qualidade. Eles conseguiram atingir o que Paulo Freire já disse: de colocar a escola pública em pauta para a sociedade como um todo e, assim, ter uma educação de qualidade.

Recuo e projeto

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou, na tarde desta sexta-feira (4), o adiamento por pelo menos um ano da reorganização escolar anunciada por sua gestão há pouco mais de dois meses. Após uma série de protestos estudantis e contestação de outros setores da sociedade, o governador disse ter tomado a decisão para que haja uma nova discussão sobre a medida.

— Em respeito à mensagem dos estudantes e familiares e suas dúvidas decidirmos adiar a reorganização e rediscutir com todas as escolas, com a comunidade e principalmente os pais.

O recuo do governador ocorreu após detenções de manifestantes e registros de confronto de alunos com policiais militares; posicionamento do Ministério Público e decisões judiciais contrárias ao projeto; e divulgação de pesquisa indicar a pior aprovação do governo Alckmin desde 2001.  

Depois da suspensão da reforma, o secretário de Educação, Herman Voorwald, pediu para deixar o cargo. Ainda há discussões internas no Palácio dos Bandeirantes para definir o nome do substituto.

O projeto de reorganização foi anunciado em setembro com a justificativa de que as escolas passassem a ter apenas ciclo únicos, o que melhoraria o desempenho dos alunos. 754 unidades passariam a oferecer só os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), finais (6º ao 9º) ou ensino médio. Com isso, mais de 300 mil alunos seriam transferidos e 92 escolas, fechadas.

No dia 9 de novembro, cerca de 40 alunos da EE Diadema, no ABC Paulista, deixaram as salas de aula e passaram a ocupar corredores e demais dependências da escola contra a medida. Era o início de uma onda de protestos. No dia seguinte à ocupação em Diadema, foi a vez da EE Fernão Dias Paes, em Pinheiros e, daí em diante, o número de colégios tomados aumentou a cada dia.

De acordo com Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), ao todo, 205 escolas e duas diretorias de Ensino — Sorocaba e Santo André —, estão ocupadas em todo o Estado. A Secretaria de Educação confirma movimento em 196 unidades.

Topo

APEOESP - Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo - Praça da República, 282 - CEP: 01045-000 - São Paulo SP - Fone: (11) 3350-6000
© Copyright APEOESP 2002/2011