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Qui, 29 de Outubro 2015 - 20:55

'Entrei em desespero', diz mãe sobre fechamento de escola em São Paulo

Lista com 94 escolas que irão fechar foi divulgada nesta quarta-feira. Família de zeladora mora em escola há 9 anos e não sabe para onde irá.

Por: Will Soares e Paula Paiva Paulo - G1 São Paulo

No primeiro dia de aula após a divulgação da lista com as escolas paulistas que irão fechar por causa da reorganização escolar da rede estadual, nesta quinta-feira (29), Nancy de Oliveira ainda não sabe o que irá acontecer com seu filho Eduardo no ano que vem. “Quando eu vi que saiu a lista oficial, que eu vi que o nome da escola estava, eu já entrei em desespero, porque é meu filho. Para o estado, ele é um número”.

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O filho de Nancy, de 8 anos, estuda na Escola Estadual Paulo Machado de Carvalho, na região central de São Paulo. Ela é uma das 94 escolas estaduais que irão fechar e os prédios serão utilizados para outro fim educacional. Dessas, 25 estão na capital paulista.

Nancy elogia o atual colégio, que atende crianças do ensino fundamental. “É muito pequeninha, é super acolhedora, é o ideal pro ensino”. A mãe reclama que ainda não recebeu orientações sobre o colégio que o filho irá ano que vem. “A única coisa que nós soubemos é que iria acontecer a reestruturação”.

Outra mãe que está inconformada com o fechamento da escola é Bárbara Algarte. Ela promoveu um abaixo-assinado entre as mães, mas não conseguiu muitas assinaturas. “Como a escola é pequena, a força é pequena”.

Ela mora em outro bairro e escolheu a escola Paulo Machado porque o filho Nicolas, de 7 anos, tem alergia alimentar e lá recebe uma atenção especial, segundo ela, por ter poucos alunos. A mãe está preocupada com a mudança para um colégio maior. “Imagina uma escola estabelecida que vai receber alunos de 2 ou 3 escolas”.

Estela, mãe de Gabriel, está preocupada se irá achar vaga em outra escola (Foto: Paula Paiva Paulo/G1)

Estela Murao também não sabe onde o filho vai estudar ano que vem. Gabriel tem sete anos e está no 1º ano. Ela irá procurar alguma escola próxima da Paulo Machado, mas mesmo assim não sabe se irá conseguir matricular o filho. “Estou preocupada porque o pessoal fala que não vai ter vaga”.

A Escola Estadual Pedro Fonseca, na Vila Sônia, Zona Sul da capital, é outra que será fechada pelo governo. A unidade estava bem vazia nesta quinta-feira. O motivo é a realização de uma reunião, marcada para as 10h, para que professores e o diretor do colégio conversem com os pais dos estudantes sobre a mudança.

'Achei que ia me formar aqui'
Por causa da reunião, os alunos só tiveram as três primeiras aulas no período matutino. Muitos preferiram, então, nem assisti-las. Apenas cerca de 20 estudantes apareceram. Entre eles, Semiramy Neves, de 16 anos. A jovem chegou acompanhada da prima mais nova e se mostrou preocupada em ter de abandonar a escola na qual estudou nos últimos cinco anos justamente quando vai entrar no terceiro ano do ensino médio.

“Eu achei que ia me formar aqui. Queria tentar lutar pela escola, mas saiu das próprias pessoas que trabalham aqui que não vai ter mais como recorrer, que ela vai fechar e não tem mais jeito. Não tem como a gente ir pra rua, não tem como a gente fazer mais nada”, disse.

Semiramy lamentou o fato de que, provavelmente, terá de se separar dos dois primos que também estudam na instituição, no mesmo período. Eles costumam ir e voltar da escola juntos e contam que, desta forma, se sentem mais seguros, além de aproveitar a companhia. “Minha mãe tá bem triste. Até ela estudou aqui. É como se fosse uma escola da família”, completou.

Família de zeladora não sabe onde vai morar

Moacir é casado com zeladora e não sabe onde vai morar no ano que vem (Foto: Will Soares/G1)

O caso da família do motorista Moacir Eller, de 45 anos, é ainda mais complexo. A mulher dele é zeladora da Escola Pedro Fonseca. Por conta do cargo, há nove anos o casal vive em uma casa dentro das dependências do colégio com um dos filhos. Agora, eles não sabem onde vão morar. “Se continuar do Estado vamos continuar. Se virar da Prefeitura, não. Não tem nada certo pro nosso lado ainda”, explicou.


Se ainda não sabe onde será o seu endereço a partir do ano que vem, Moacir ao menos já tem consciência das dificuldades que vai encontrar parar arcar com os custos de um aluguel: “Vai ser correria, né. Correr atrás de uma casa para alugar. Vai ser complicado porque hoje pra alugar o que os caras pedem, fiador... não tem condições".

Para ele, o fechamento da escola é "um absurdo". O motorista também acredita que o governo não irá cumprir com a promessa de remanejar os alunos para escolas que fiquem a no máximo 1,5 km de distância de onde estudam atualmente. "Vai quebrar o bairro. Além dessa, tem outra escola próxima que vão fechar. São duas escolas no bairro que vão fechar. Não tem colégio aqui na região a menos de 2 ou 3 quilômetros".

'Não tem transporte para voltar'

Estudantes do Ensino Médio da Escola Maria Eugênia Martins, no Jaguaré, na Zona Oeste de São Paulo, estão entre os afetados. Segundo a secretaria, em todo o estado 311 mil alunos terão de mudar de escola. No total, 3,8 milhões estão matriculados no sistema de ensino. A mudança atinge ainda 74 mil professores.

“Eu gosto daqui, é perto da minha casa. Da minha casa até aqui [escola], acho que é 10 minutos, bem melhor para mim”, disse o aluno Gabriel do Nascimento, de 16 anos. “Eu não gostei porque prejudica os alunos”, disse outro estudante

No ano que vem, a unidade de educação terá apenas ensino fundamental e os alunos já estão em clima de despedida. O governo estadual decidiu criar escolas de ciclo único e separar os alunos por séries. A mudança cria 754 escolas de ciclo único.

Os alunos serão transferidos para uma unidade na região do Parque Continental. A nova escola fica a 2 km de distância da atual e acima da distância proposta pela secretaria.

“Transporte até pra ir tem, mas pra voltar não tem. Vai ter que vir um pouco mais tarde e isso acaba não sendo bom”, afirmou Thiago Araujo, de 18 anos. "Eu vou estar chegando sempre na segunda aula e vai atrapalhar muito."

Critérios

A Secretaria da Educação de São Paulo diz que a mudança levou em consideração a realidade demográfica e especificidades de cada município. Os critérios para as mudanças incluíram o número máximo de alunos por sala e o deslocamento limite de 1,5 km da atual escola para a nova unidade. Ao todo, cerca de 311 mil alunos do total de 3,8 milhões serão transferidos pela reorganização das escolas. A mudança atinge ainda 74 mil professores.

A secretaria vai disponibilizar nesta quinta-feira (29) no site da reorganização escolar uma ferramenta busca na qual os pais poderão consultar o destino da escola do filho (se mudará do número de ciclos ou se será fechada).

No dia 14 de novembro, as diretorias de ensino vão fazer uma grande reunião com os pais de alunos para explicar a mudança e informar o destino de cada estudante.

De acordo com o governo, a reorganização da rede criou 754 escolas de ciclo único, focadas em uma única faixa etária. Assim, 2.197 escolas em todo o Estado (43% do total) passarão a funcionar neste modelo, a partir de 2016. Serão abertas 2.956 classes e haverá uma diminuição de 18% de escolas de dois segmentos, passando de 3.209 para 2.635.

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