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Seg, 30 de Novembro 2015 - 14:59

Ocupações de escolas em SP já mudaram ensino, diz antropóloga

Para Alba Zaular, ações que misturam a escola com a comunidade tendem a melhorar a qualidade do ensino e envolver toda a sociedade com a Educação.

Por: UOL Educação - 26.11


O governo do Estado de São Paulo pode até não voltar atrás na decisão de reestruturar o ensino, mas, na opinião da antropóloga Alba Zaluar, a ocupação de mais de 150 escolas pode modificar a estrutura da educação pública no país.

Zaluar, que já foi diretora de escola pública em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, considera que a ocupação vai fazer o ensino avançar muito em todo o país.

"Eu acho a ocupação uma coisa linda, maravilhosa. Isso pode, enfim, modificar a divisão que há entre o que é instituição do Estado e o que faz parte do cotidiano das pessoas. A escola é a mistura dos dois", afirmou.

Até a noite da quarta-feira (25), estudantes ocupavam 151 escolas públicas em todo o Estado de São Paulo, em protesto contra o fechamento de colégios e o projeto de reorganização da rede de ensino.

Pobreza e aprendizagem

A antropóloga apresentou, na última segunda-feira (23), uma análise sobre as oportunidades de educacionais para pessoas de baixa renda durante a 3ª Reunião da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede Cpe), que foi organizada no Rio de Janeiro.

Na visão de Zaluar, que dedica sua carreira principalmente ao estudo da antropologia urbana e da antropologia da violência, não é porque um estudante é pobre que ele vai necessariamente ter mais dificuldade na escola. A antropóloga tenta desconstruir alguns conceitos bastante difundidos no meio acadêmico que consideram a pobreza como uma algo consensual e homogêneo e isso, segundo ela, não existe.

"Em qualquer classe social há diferentes maneiras de criar as crianças. Não há como generalizar isso. O autoritarismo, por exemplo, não conduz ao um bom desenvolvimento do cérebro. Mas isso não significa que os mais pobres tendem a ter uma forma de criação que é mais prejudicial ao desenvolvimento do cérebro. Autoritarismo ocorre em várias classes sociais e em vários lugares, como a escola, a vizinhança", afirmou.

Zaluar defende que a escola leve em consideração a bagagem cultural que as crianças trazem. Principalmente, as mais pobres, que têm muito a acrescentar em uma sala de aula.

"Os jovens de classes sociais mais baixas têm um sentido de concreto mais aguçado. Eles sabem mais das coisas práticas da vida e isso não é valorizado. É necessário ter uma integração maior entre escola e criança", disse.

Por isso, para Zaluar, ações que misturam a escola com a comunidade onde o colégio está inserido tendem a melhorar a qualidade do ensino e, claro, envolver toda a sociedade com a educação. 

SP: Por que alunos e professores não querem reforma na rede? Veja 7 motivos

A Secretaria da Educação de SP anunciou no fim de setembro que iria fazer mudanças na rede estadual de ensino, com os argumentos de que houve uma queda no número de estudantes nos últimos anos e que o ciclo único melhora o desempenho. A reorganização significa que as escolas vão atender prioritariamente alunos de um mesmo ciclo de ensino -- quem está no ensino fundamental, por exemplo, deve estudar em unidade diferente dos que estão no médio.

O problema é que as mudanças vão afetar diretamente a vida de 311 mil estudantes e vão resultar no fechamento de 93 escolas, que serão disponibilizadas para outras instituições, como prefeituras e o Centro Paula Souza. A secretaria garante que a finalidade, porém, deve ser a mesma: educação.

Assim que o anúncio foi feito, no início sem detalhamentos sobre como as mudanças deveriam ocorrer, professores, pais e alunos começaram a se manifestar contra a reorganização. Primeiro, foram os protestos e, desde o dia 9 deste mês, estudantes ocupam escolas em todo o Estado para tentar barrar os planos do governo.

Veja quais são as críticas à reforma da rede

1) Reorganização vai fechar escolas
A reforma da rede estadual vai fechar 93 unidades no Estado, incluindo escolas de tempo integral e outras com bom desempenho em avaliações de ensino. O governo alega que a reorganização permitirá aumento de vagas de ensino integral em 2016. Em Santos, a Defensoria Pública conseguiu uma decisão na Justiça contra o fechamento de uma escola referência no atendimento de alunos com deficiência.

2) Alunos temem salas lotadas
Apesar da Secretaria de Educação dizer que o número máximo por sala continua de 30 alunos para o ciclo 1 do fundamental, 35 para o ciclo 2 e 40 para o ensino médio, os alunos temem a superlotação das classes. Eles dizem que as escolas já existem salas cheias, o que poderia piorar com a chegada de estudantes de outras unidades.

3) Alunos não querem mudar de escola
Segundo a Secretaria da Educação, 311 mil alunos serão afetados com a reorganização dos ciclos. Muitos, porém, não querem ser transferidos para outras unidades. A pasta diz que os estudantes não serão transferidos para escolas distantes mais de 1,5 km da atual unidade de ensino.

4) Pais e alunos temem queda na qualidade de ensino
O medo das famílias é que os alunos sejam transferidos para escolas em que o ensino seja pior do que o da unidade atual. Outro temor é o de que as crianças estudem em regiões mais perigosas, caso dos estudantes de 11 e 14 que devem estudar na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

5)A comunidade escolar diz que não foi ouvida
Pais e alunos dizem que as medidas foram tomadas sem que houvesse um amplo debate com a comunidade escolar que será afetada pela reorganização. No último dia 14 de novembro, as escolas foram abertas para dar esclarecimentos aos pais, mas eles dizem que as medidas foram tomadas de forma autoritária.

6)Professores e funcionários temem cortes
A Secretaria da Educação informou que não haverá demissão de professores efetivos. A rede, no entanto, tem uma boa parcela de temporários, que não são concursados e podem ficar sem aulas. Além disso, os efetivos temem que as mudanças aumentem a distância e o número de escolas em que precisarão dar aulas.

7) Universidades dizem que mudança não garante melhora no ensino
As faculdades de educação da USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) criticaram os planos do governo para o ensino paulista. Eles dizem que não há provas de que a organização das escolas por ciclo de ensino tenha impacto direto no desempenho dos alunos. Para os pesquisadores, a decisão tem cunha econômico, e não educacional.

 

Sobe para 174 número de escolas ocupadas no Estado de SP

O número de escolas estaduais ocupadas por estudantes em São Paulo chegou na noite desta quarta-feira a 174, de acordo com a Secretaria de Educação. Outras 29 escolas foram desocupadas, segundo a pasta. Os alunos se mobilizam desde o fim de setembro contra a reorganização da rede, que resultará no fechamento de unidades e na transferência de alunos.

No primeiro momento, pais, alunos e professores realizaram protestos em vários pontos do Estado contra as mudanças, e desde o início da semana retrasada começaram a ocupar as escolas. O objetivo da reorganização, segundo a pasta, é aumentar o número de escolas com ciclo único – ensino fundamental 1, ensino fundamental 2 e ensino médio.

Na manhã de segunda (23), juízes do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) negaram um recurso do governo do estado que pedia reintegração de posse das escolas ocupadas na capital paulista. O pedido indeferido foi feito por intermédio da Secretaria da Fazenda e a decisão foi da 7ª Câmara de Direito Público.

No último dia 19 a audiência pública de conciliação entre a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e os estudantes que ocupam dezenas de escolas foi tumultuada. Porém, ficou acordado que o secretário Herman Voorwald iria debater o assunto no governo ao longo do final de semana para apresentar uma contraproposta hoje.

Em nota, a Secretaria de Educação "esclarece que protocolou junto ao Tribunal de Justiça propostas de negociação com estudantes para desocupação das escolas, mas mais uma vez não obteve acordo. A Pasta se mantém aberta ao diálogo. O conteúdo pedagógico perdido pelos alunos será reposto após o encerramento do calendário oficial. A Secretaria reforça ainda que a reorganização entregará mais de 700 escolas segmentadas pela idade de seus alunos e que nenhuma escola será fechada. Ao contrário. Todas elas passarão a atender demandas regionais de educação, como ensino infantil (creches) e ensino técnico."

 

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