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Qui, 19 de Novembro 2015 - 15:19

"Vou dormir e sinto eles me batendo", diz docente agredida por PMs em ocupação

Declaração é de Jaiane Estevam, que leciona na escola estadual José Lins do Rego, ocupada por alunos desde sábado.

Por: Milena Carvalho - iG São Paulo - 19/11/2015

 

Jaiane Estevam foi agredida por policiais durante a ocupação da unidade José Lins do Rego


Catastrófica. É assim que Jaiane Estevam, de 30 anos, professora de Filosofia da escola estadual José Lins do Rego, classifica a experiência pela qual passou no último sábado (14). Ela e outros docentes foram agredidos por policiais militares ao participarem da ocupação da unidade, na Estrada do M’ Boi Mirim, no bairro Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.

Emocionada, chorando muito, a professora diz: “Está difícil manter o emocional controlado." No último fim de semana, alunos, pais, professores e pessoas do bairro foram pela manhã até a escola para participar do dia “E”, promovido pela Secretaria Estadual de Educação – reunião que serviria para explicar como irá funcionar a reorganização escolar promovida pelo governo paulista, medida que alguns reprovam e o motivo para as ocupações.

Docente há quase 10 anos, ela conta que já estava fora do colégio, esperando para saber dos estudantes se a ocupação ocorreria ou não, quando começou a ouvir uma gritaria por volta das 14h. Ao tentar entrar na escola para saber o motivo, foi barrada no portão pelos policiais. “Eles começaram a falar que a gente tinha de sair, mas já com os cassetetes e as armas apontadas, com spray de pimenta na mão”, relembra. Primeiro Jaiane teria sido empurrada. Ao perguntar “cade o mandato?”, começou a ser agredida. “Me deram uma cassetada no ombro e começaram a falar ‘sai daqui, vagabunda’.”

Na confusão, Jaiane teve seu pé preso no portão da escola e precisou usar bota ortopédica


Foi então que surgiu Edivan Costa, de 39 anos, que também trabalha naquela unidade. Professor de História, ele tentou salvar Jaiane das repressões. Sem sucesso, o docente teria sido arrastado para o pátio do colégio e também começou a ser atacado fisicamente. “Enquanto continuavam a me bater no portão, prendendo minha perna ali e me espancando, Edivan sofria lá dentro”, conta Jaiane.

O educador, também emocionado, lamenta: “Eu nunca vi tanta raiva nos olhos de uma pessoa” – referindo-se aos militares. “Acontecer isso em uma escola é uma aberração.” Ambos os professores foram atingidos por spray de pimenta. No caso de Jaiane, foi ainda pior. “Um dos policiais abriu minha boca e espirrou dentro da minha garganta”, acusa. Enquanto dava seu depoimento ao iG, a professora teve de se retirar duas vezes – reação às constantes tosses, reflexo do spray, e também por não conseguir controlar a emoção. “Eu vou dormir e sinto eles me batendo de novo.”

Assista ao vídeo divulgado pela página do Facebook "Não fechem minha escola", em que o professor Edivan Costa é agredido pelos policiais:

Link vídeo - clique aqui

“Isso é tortura, não tem outro nome para isso”, define Costa, professor há nove anos. "Eu só pude fechar os olhos e sentir as pancadas. Levei chutes no tronco, nas pernas, basicamente no corpo inteiro.” O docente, que foi ordenado a se ajoelhar, não atendeu ao pedido. “Eu não ia ajoelhar, a ditadura já acabou.” Sobre o policial que aparece sangrando no vídeo, Costa se defende. “Em nenhum momento eu agredi qualquer pessoa, eu não machuquei ninguém. Minhas únicas preocupações ali eram os meus alunos, tirar a Jaiane dali e me defender.”

Registro do caso

Algemado, o professor foi detido e encaminhado primeiramente ao Hospital Municipal M'boi Mirim sob escolta policial para atendimento. Depois, foi levado ao 47º DP, do Capão Redondo, onde foi feito além de um boletim de ocorrência, um termo circunstanciado – quando o caso é apontado pelo delegado como infração de menor potencial ofensivo, ou seja, os crimes de menor relevância.

Durante entrevista, professor de História Edivan Costa foi às lágrimas ao relembrar agressão


“O delegado recebeu a ocorrência e entendeu que as agressões se deram em um meio tempo de resistência, que os professores ao tentarem impedir o fechamento do portão da escola teriam desrespeitado uma ordem legal dos policiais”, explica Maurício Vasques, advogado criminal dos dois professores. O especialista esclarece o porquê foi registrado um termo circunstanciado. “No entendimento do delegado, aquele fato configurou em um crime de resistência. Por ser um crime menos grave em apuração, não se instaura um inquérito policial com uma longa investigação.”

Jaiane foi levada por outros professores para o mesmo hospital, onde ficou até a madrugada de domingo. Assim como Costa, ela, que até hoje está usando uma bota ortopédica devido ao pé que ficou preso no portão, registrou o caso na delegacia e foi ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito.

Medo

Em meio às lágrimas, Costa diz ter medo do que irá acontecer. “Eu estou morrendo de medo de represálias da PM e da Secretaria da Educação”, afirma. “Minha vida está um pesadelo.”

Além de Jaiane, Edivan também ficou com hematomas; o da foto é por causa das algemas


Jaiane tem o mesmo sentimento. Para a professora, o que mais importa neste momento são os estudantes. “Nossa meta agora é a integridade dos nossos alunos. Queremos que a Secretaria se sensibilize e que o governo pare com a truculência.”

Sobre a reorganização escolar, que propõe que unidades sejam agrupadas por ciclos únicos, os dois professores defendem um diálogo com a pasta. Apesar de a escola José Lins do Rego não estar entre as escolas que passarão pela reforma, ambos dizem não terem sido consultados e que não sabem onde darão aula em 2016. “Eu confio no poder da democracia. Espero que depois de tudo isso o governo não continue inflexível”, declara Costa.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou que não irá comentar o caso. Segundo a pasta, quem deve se pronunciar é a Secretaria de Segurança Pública (SSP), já que a agressão foi feita por militares.

Por meio de nota, a SSP afirma que a polícia foi chamada pela diretora da escola estadual José Lins do Rego e que fez um acordo com o grupo, que teria deixado o local. O comunicado ainda diz que ao retornarem à institução, “os invasores passaram a agredir a PM” e que “um soldado foi ferido por um notório militante do sindicato, que foi contido e levado à delegacia para registro da ocorrência”. “A PM atua para combater invasões ilegais, como a ocorrida neste sábado, e para garantir a segurança de todos os presentes”, finaliza.

Fotos: Milena Carvalho/iG São Paulo

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