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Qua, 28 de Novembro 2018 - 16:45

Professor não é problema, é a única solução possível

Por: O Povo - 28.11

 
A comissão especial da Câmara dos Deputados pode votar amanhã o projeto Escola Sem Partido, depois de semanas de bate-bocas e tumultos. O Supremo Tribunal Federal (STF) pode discutir hoje projeto muito similar, de Alagoas, que daria as diretrizes da Corte em relação ao tema. Todavia, o presidente Dias Toffoli já sinalizou que não quer polêmica este ano. A questão deve ir mesmo para a comissão da Câmara.
 
O Brasil avançou na educação, mas segue com problemas sérios. Na última avaliação internacional de estudantes, o Pisa, foram analisados 70 países e o Brasil ficou em 65º lugar em matemática, 63º em ciências, 59º em leitura. Nas últimas décadas, o analfabetismo caiu, a evasão escolar foi bastante reduzida, mas o aprendizado segue péssimo. Problemas não faltam, mas os políticos brasileiros estão preocupados com os problemas errados.
 
O Escola Sem Partido parte do princípio de que o professor em sala de aula é um problema em potencial. Um perigo. Ele tem violentado ideologicamente os jovens e criado legião de doutrinados no comunismo. O princípio é de que esse professor precisa ser vigiado e controlado.
 
Lógica elementar poderia levar à indagação do tipo de doutrinação comunista praticada nas escolas de um País cujos jovens deram o mais expressivo apoio a Jair Bolsonaro. Conduzir políticas públicas com raciocínio que parece importado sem escalas da Guerra Fria já seria ruim, mas pior ainda é saber que essa discussão obscurece o enfrentamento dos problemas reais.
 
Não, os professores não são os problemas do Brasil. São a única solução possível para a educação. São a categoria mais importante e mais numerosa do serviço público. O piso salarial para carga horária de 40 horas semanais é de R$ 2.455,35. Anteontem, foi sancionada a lei que elevou o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) - e dos parlamentares federais por tabela - para R$ 39 mil.
 
Amanhã, os políticos devem se reunir para estabelecer limites e controles para a atuação dos professores. Porque, segundo esses políticos, o problema está nos professores. E esses políticos se acham a solução.
 
Discurso comunista do neto de ACM
 
O Brasil está polarizado de maneira tal que quem critica o Escola Sem Partido é chamado de comunista, e comunista é tratado como se palavrão fosse. Mas, em entrevista à rádio Metrópole, de Salvador, o prefeito da capital baiana, ACM Neto (DEM), criticou o Escola Sem Partido. "No Brasil, não tem essa coisa de professor estar na sala de aula fazendo militância política. Alguns até fazem, mas são exceções. E exceções devem ser tratadas como exceções. Você vai censurar, monitorar o que o professor está falando em sala de aula? Isso é descabido". Pouco mais, o neto do velho ACM vai estar sendo chamado de comunista.
 
Virgílio Távora e a esquerda
 
Ainda sobre essa coisa de direita, esquerda e liberdade em sala de aula. Virgílio Távora - que foi da UDN e da Arena, um insuspeito conservador - foi responsável por tornar a professora Luiza de Teodoro a principal formuladora da educação do Ceará. Ela foi uma das introdutoras do método Paulo Freire no Estado, no governo de Virgílio, durante a ditadura.
 
Em 19 de dezembro de 1998, em entrevista ao Vida&Arte, aqui no O POVO, ela explicou a relação entre eles. "O governador Virgílio Távora tinha encarregado a mim e a uma equipe de pessoas de esquerda de fazer (a diretriz pedagógica do estado). Por que pessoas de esquerda? O próprio Virgílio explicava: - Porque vocês é que sabem das coisas. Ele dizia, vocês não concordam comigo, nem gostam de mim. O que não era verdade, a gente aprendeu a gostar dele. Mas não das ideias, nem do partido, nem da política dele, isso aí é verdade. Ele nos autorizou e nos deu inteira liberdade, diga-se isso em respeito à memória de um grande homem".
 
Nem concordo que é a esquerda que sabe das coisas. Ao menos não é só ela. Tem grandes formuladores de direita e de esquerda, assim como tem bobagens ditas de todos os lados. Inteligência e burrice não têm ideologia. Outro ponto: pouco mais e Virgílio estará no rol dos comunistas elencados pela nova direita. Ele e ACM Neto. 
 
 
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