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Sex, 20 de Dezembro 2019 - 17:44

Professores lutam contra salários baixos, doenças e até agressões para continuar na profissão

Por: TV Globo / Profissão Repórter - 19.12

 
 
Profissão Repórter mostra as dificuldades que os professores enfrentam dentro e fora da sala de aula. Doenças como ansiedade e depressão, salários baixos e até agressões de alunos são problemas recorrentes.
 
Em São Paulo, mais de 27 mil professores foram afastados das salas de aula entre janeiro e setembro deste ano por problemas de saúde. O Profissão Repórter foi atrás de histórias de como os profissionais da educação estão enfrentando dificuldades dentro e fora da escola.
 
A repórter Sara Pavani foi até o Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo. Sem autorização para entrar no local, ela ficou a espera de uma oportunidade para conversar com professores que foram até lá para passar por uma perícia e conseguir licença da profissão.
 
Em conversa com professores que deixavam o prédio, as maiores queixas foram em relação ao estresse e ansiedade. As professoras falam sobre a forte pressão de lecionar no ensino público
 
"Eu chegava para dar aula e não conseguia. Ficava tremendo. Até que cheguei em um ponto em que me aprontei para ir à escola e não consegui tirar o carro da garagem", conta a professora Cássia Eliandra da Cruz.
 
Já Regiane Alves conta que passou a tomar medicamentos pelo excesso de trabalho. "Eu tomo medicamentos que são passados pela minha psiquiatra. Eu tomo já faz muitos anos. E eu trabalho em muitas escolas para poder ganhar um salário para ajudar minha família. Acho que é excesso de trabalho como em muitos casos."
 
A professora Tânia Maria Fernandes reclama do antedimento do Departamento de Perícias Médicas do Estado de São Paulo. Ela diz que os profissionais da saúde não fazem uma avaliação completa e muitas vezes recusam a solicitação de licença médica.
 
"A minha médica sabe da minha situação. O médico do DPME não sabe. O médico está sentado na cadeira, ele olha para sua cara e diz para você 'tá, pode ir embora'. E depois quando procura o Diário Oficial lá diz que está negado."
 
Sem conseguir a licença médica, os professores têm as faltas descontadas do salário.
 
Com relação às licenças negadas, o Departamento de Perícias Médicas do Estado, diz que em respeito ao sigilo médico dos prontuários não comenta sobre os casos de seus pacientes. A nota afirma que as avaliações são estritamente técnicas, com base em princípios médicos e padrões internacionais.
 
Jornada dupla
Há seis anos, Marcela Carvalho é professora de história, geografia, filosofia e sociologia em cinco escolas públicas estaduais. No total, ela possui 19 turmas nas escolas, com 555 alunos e precisa corrigir 1.500 provas e trabalhos por bimestre.
 
Além de dar aulas, Marcela também tem outro trabalho para complementar a renda mensal. Ela faz entregas de comidas aos finais de semana em uma motocicleta que comprou usada. Com o 'bico' como entregadora, ela consegue ganhar em média R$ 60 por dia.
 
O dia de Marcela começa às 06h e termina às 23h. Além de se dividir entre cinco escolas diferentes para lecionar, ela ainda precisa encarar a distância entre as instituições. A professora percorre cerca de 80 quilômetros de segunda a sexta.
 
A repórter Danielle Zampollo acompanhou a rotina de Marcela, que diariamente usa a moto que comprou para se deslocar com rapidez entre as diferentes escolas.
 
"Acho que o que mais cansa o professor é ficar mudando de escola tantas vezes por dia", diz.
 
Marcela trabalho como professora concursada em duas das cinco escolas que leciona. Nas outras três, ela é professora substituta. Em média, a hora/aula é de R$ 12,14. No final do mês, a renda de Marcela como professora não chega a R$ 3 mil líquido.
 
Agressões e medo
Em Carapicuíba, na Grande São Paulo, a repórter Nathalia Tavolieri conheceu a professora Rosângela Perleto. Ela leciona português e inglês em escolas públicas da cidade há mais de 25 anos. Mas há seis meses ela está afastada das salas de aula.
 
Em maio desse ano, ela foi filmada tentando controlar um grupo de alunos do sétimo ano. Na filmagem, os jovens aparecem jogando papel na professora, chutando mesas e cadeiras.
 
"Desde sempre eu quis ser professora. É uma área muito difícil e não é para qualquer um não. É para quem gosta e tem paixão mesmo", diz Rosângela.
Depois que o vídeo se espalhou na internet, Rosângela precisou ficar uma semana internada para receber tratamento psiquiátrico. "Quando eu passei mal em casa, eu assustei muito meu pai, minha mãe, porque eu gritei bastante. Eu surtei mesmo, desmaiei várias vezes."
 
Ela foi diagnosticada com síndrome do pânico e fez um pedido para mudar de função quando voltar da licença. Ela quer deixar de ter contato com os alunos para trabalhar na secretaria da escola. A resposta do Departamento de Perícias Médicas só sai em fevereiro de 2020.
 
Seis alunos que aparecem no vídeo depredando a sala de aula foram transferidos para outras escolas e estão cumprindo medidas socioeducativas em liberdade.
 
Em Piracicaba, no interior de São Paulo, a equipe do Profissão Repórter conversou com Orlando Catarina, que é professor de educação física. Ele foi agredido em uma escola pública da cidade após chamar a atenção de um aluno que estava circulando pelos corredores do colégio durante as aulas. Ainda segundo ele, o jovem foi embora da escola prometendo se vingar.
 
O aluno retornou à escola, discutiu com o professor e desferiu uma paulada nele. O professor conseguiu se defender, mas estilhaços da madeira fizeram um corte atrás de sua orelha. Ele precisou levar pontos no local.
 
"No momento em que eu fiz a defesa, o pau quebrou e a ponta pegou na minha orelha e foi cortando a cabeça."
 
A repórter Nathalia Tavolieri conseguiu contato com a mãe do aluno que agrediu o professor. Sem mostrar o rosto, ela conta que o jovem de 17 anos está internado na Fundação Casa desde o dia 1º de outubro por causa dessa agressão. A mãe também diz que o jovem sofre de distúrbio de comportamento.
 
Em 23 de abril deste ano, em Formosa do Oeste, no Paraná, o professor Sérgio Vesco foi esfaqueado na perna por um aluno de 14 anos.
 
O professor conta que foi agredido pelo aluno quando pediu para o mesmo se dirigir até a secretaria da escola após ele xingar a pedagoga que estava na sala de aula.
 
"O garoto não estava na sala de aula. Então eu comecei minha aula e ao entrar na sala, ele falou um palavrão feio para a pedagoga, eu ouvi e me exaltei. Pedi que pegasse sua mochila e acompanhasse a pedagoga até a secretaria para que ele pudesse fazer as tarefas dele lá. Então ele foi até o fundo da sala de aula e eu o acompanhei. Então acredito que foi nesse momento que cometi o erro mais grave da minha vida. Eu escutei uma amiga dizer que ele está armado e ele puxou a faca, eu tentei tomar a faca, o punhal, não consegui, ai foi quando ele me acertou. Me acertou direto em uma veia principal e também ferindo gravemente a arterial femoral. Foi bem terrível, foi algo que eu jamais esperava passar na minha vida."
 
Sérgio é professor há 21 anos e essa foi a primeira vez que ele precisou se afastar da sala de aula. Ele está em tratamento físico e psiquiátrico e toma 10 remédios diferentes por dia.
 
"Estou tentando voltar ao normal, que normal para mim é a escola. Eu quero voltar a essa rotina e não estou vendo facilidades. Todas as vezes que voltei na escola, eu não penso em outra coisa. Eu tenho tantas coisas para fazer na escola, eu tenho um mundo ali na escola, futuro para resolver na escola. Mas eu entro na escola e lembro disso daí, não consigo pensar em outra coisa. Coloco o pé na escola e lembro da agressão que sofri. E isso estou lutando para apagar. Não quero isso na minha vida."
 
O aluno que deu a facada no professor foi condenado por infração penal análoga à tentativa de homicídio e está internado em um centro socioeducativo.
 
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