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Seg, 07 de Agosto 2023 - 15:50

Menos livros, mais violência: pobre SP

Os 1,4 milhão de adolescentes do ensino público de SP, a partir de 12 anos, só terão material digital. Cada um deixa de receber cerca de 7 livros, que seriam pagos pelo governo federal.

Por: Daniel Becker

O governo de São Paulo renunciou a um total de R$ 120 milhões ao decidir não aderir ao Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD). Até 2027 não haverá livros no ensino público paulista. Apenas telas. Isso vale para o Fundamental 2 (6º ao 9º ano) e Ensino Médio.

Em suma: os 1,4 milhão de adolescentes do ensino público de SP, a partir de 12 anos, só terão material digital. Cada um deixa de receber cerca de 7 livros, que seriam pagos pelo governo federal.

Essa é exatamente a idade em que começa a se agravar o uso excessivo de telas, e em que os livros representam uma alternativa importante. E, não por coincidência, também é quando começam a se manifestar os piores sintomas da crise de saúde mental que vem atingindo a infância e adolescência de forma catastrófica.

Essa decisão é tomada num momento em que vários países europeus estão banindo celulares na escola, e em que a Suécia decide suspender seu programa de educação digital, favorecendo a educação baseada em livros. A Unesco também acaba de publicar um relatório colocando em questão o excesso de uso de tecnologia nas escolas.

As justificativas para essa decisão são bizarras. De acordo com a Secretaria Estadual, “a Educação de SP possui material didático próprio, alinhado ao currículo do Estado, mantendo a coerência pedagógica”. Que coerência será essa, que justifica uma renúncia de R$ 120 milhões e à total rejeição ao livro impresso? Pelo perfil do governo Tarcísio, o cuidado ambiental não deve entrar nessa conta.

Aliás, é bom lembrar: os livros do PNLD são aprovados por um comitê de especialistas em suas temáticas. Mas o secretário estadual Renato Feder, empresário da área de tecnologia e defensor da terceirização do ensino público para grupos privados, os avalia como “superficiais” — um julgamento no mínimo questionável, e que parece esconder outros interesses. Já o conteúdo “coerente” da secretaria não passa por controle de qualidade externo, e exclui escolas e professores da escolha de seus materiais didáticos. E os milhares de alunos que tem problemas de acesso a aparelhos ou à internet? As escolas podem “imprimir os materiais sempre que houver necessidade”.

Para piorar, Feder é acionista da principal fornecedora de equipamentos de informática da Secretaria da Educação, a Mulltilaser, por meio de uma offshore nos EUA. Feder detém 28,16% das ações da empresa, tendo sido seu CEO por 15 anos.

A Secretaria firmou três contratos de compra de notebooks e celulares com a Multilaser, no valor de R$ 200 milhões, faltando dez dias para a posse de Feder. E o mais fascinante: cabe à sua gestão fiscalizar os contratos.

O conflito de interesse é mais que óbvio. Num governo que levasse transparência a sério, ele jamais seria secretário.

Além disso, Feder acaba de implementar um inacreditável esquema de vigilância dos professores de sua rede: diretores das escolas devem assistir semanalmente a pelo menos duas aulas e produzir um relatório sobre o que observarem em sala. Seria esse um mecanismo de controle ideológico?

Ao mesmo tempo, vão chegando notícias sobre a chacina que matou 16 pessoas até agora na Baixada Santista. Um horror transformado em espetáculo por policiais que fazem ameaças à população, comemoram as execuções e ironizam familiares que choram seus mortos. Isso tudo depois que o autor do assassinato do policial que motivou a “operação” já foi preso.

É inacreditável que o governador Tarcísio, em meio a esse show macabro, diga que as mortes são “efeitos colaterais” e que “não há excessos”. Quando fica claro que o que está em curso é uma vingança, um massacre, com a polícia atuando à margem da lei.

É isso: menos livros, mais telas para intoxicar adolescentes, mais mortes e violência. Parece que o governador segue à risca a cartilha de seu mentor. Governos de extrema direita costumam cumprir o que prometem.

 

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