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Seg, 22 de Dezembro 2014 - 20:46

Governo nega, mas 'escolas de lata' resistem na periferia de São Paulo

Por: Por: Bárbara Libório - iG São Paulo

No extremo sul da capital paulista, pelo menos 28 escolas estaduais ainda sobrevivem com estrutura metálica; no calor, salas fervem, enquanto no inverno os alunos passam frio.

No verão, o calor é infernal. No inverno, os alunos sofrem com o frio. Quando as crianças sobem ou descem pelas escadas de lata, o barulho é ensurdecedor. Esse é o cenário das escolas de estrutura metálica que ainda existem em São Paulo. Com estrutura de metal e revestimento de alvenaria, elas são conhecidas pela população como "escolas de lata", mas oficialmente chamadas de "padrão Nakamura" pelo governo estadual.

Somente na área atendida pela Diretoria Sul 3, que compreende os bairos de Grajaú e Parelheiros, na periferia da capital, 28 escolas da rede estadual foram construídas no "padrão Nakamura". Em 2003, o então governador Geraldo Akmin afirmou que acabaria com as "escolas de lata" no Estado. Hoje, a Secretaria de Educação afirma que elas não existem mais. No entanto, as escolas "padrão Nakamura" ainda sobrevivem.

Segundo funcionários das instituições, há cerca de duas semanas eles enviaram à Secretaria de Educação do Estado uma documentação com fotos e reivindicações para melhorias na estrutura dos locais.

O maior problema da estrutura metálica se refere a temperatura do ambiente – ainda que haja o isolamento térmico de alvenaria. "No calor, os ventiladores não dão conta. No frio, as crianças chegam a ficar com mãos e bocas roxas", conta a funcionária de uma das escolas visitadas pelo iG, que não quis se identificar.

A solução é pedir doações de roupas para a comunidade, para que os alunos possam se agasalhar. No calor, os estudantes têm liberdade para ir ao banheiro se refrescar quando precisam. "O que a gente mais quer é que comece logo a construção da nova estrutura, assim, pelo menos, a gente trabalha sabendo que vai sair dessa", completa.

A funcionária da escola "padrão Nakamura" conta que a infraestrutura do local tem ainda outros problemas. "Até agosto deste ano, não tínhamos rede de esgoto. Usávamos fossa séptica. Foi uma luta para conseguirmos. O esgoto de outra escola caía diretamente na nossa quadra. Tínhamos medo dos alunos pegarem alguma doença."

Prejuízos educacionais

Além dos riscos sanitários, o cenário que se repete na periferia é bastante prejudicial no ponto de vista pedagógico. "Uma escola depende de relação entre pessoas, e as condições sonoras e térmicas pesam na disposição das pessoas. Não é um lugar em que você passa apenas uma tarde ou um desconforo passageiro. As pessoas convivem 200 dias por ano, no mínimo 4 horas por dias. Isso, em condições precárias, é muito ruim", afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP.

"Eles chamam de 'padrão Nakamura', mas a escola é de lata, só o revestimento é de alvenaria. Existem os mesmos problemas. O governo diz que vai acabar com esse padrão, mas diz que não pode construir uma nova escola nos locais das antigas por questões de engenharia ou de terreno. Mas deu para construir a 'Nakamura', não deu?", questiona a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) Maria Isabel Noronha.

A história das escolas de lata

Entre 1997 e 2000, a prefeitura de São Paulo, comandada à época por Celso Pitta, construiu dezenas de "escolas de lata" – instaladas em contêiners metálicos ou construídas em aço galvanizado, com cobertura de telhas de amianto –, chamadas oficialmente de "salas emergenciais" para atender a demanda da população da cidade.

Já o governo do Estado, entre 1998 e 2002, deu início à instalação de dezenas de escolas "padrão Nakamura", que ainda possuem estruturas metálicas, mas têm revestimento de alvenaria.

Procurada pela equipe de reportagem do iG, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não emitiu posicionamento sobre a questão até o fechamento desta matéria.

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