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Ter, 16 de Outubro 2012 - 14:47

Jornal da Band: Professores: há motivo para comemorar?

Carga excessiva de trabalho, escola desatualizada e falta de programas de incentivo estão entre as queixas no Dia do Professor

Por: Portal da TV Bandeirantes - 15.10

No ano 2000, a professora Flávia [nome fictício] enfrentou uma grave depressão e, pouco tempo depois, foi diagnosticada com um câncer de mama. Após isso, teve crises de pânico que a impediram de voltar às salas de aula.

“Tudo começou com uma carga de trabalho muito grande. Em 2000, veio o câncer. Depois disso, aliei a doença com aquele estresse que vivia em sala de aula e não consegui mais voltar”, relata a professora, que prefere ter seu nome não identificado. Flávia continuou a estudar. Fez curso de psicopedagogia para trabalhar com as famílias, mas não conseguiu reunir forças para retornar à sala de aula.

Casos como o de Flávia são comuns entre professores. Uma pesquisa feita pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), em parceria com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), aponta que 20% dos professores da rede básica de ensino do Estado de São Paulo sofrem de depressão.

Além disso, 96% dos entrevistados já sofreram agressão verbal ou viram colegas serem ofendidos. O vandalismo aparece em segundo lugar, com 88,5%, seguido por atos de violência física, com 82%.

Violência

Para a professora, o estresse da sala de aula e o descaso do governo com os professores levam a situações como essas. “A escola está perdendo essa estrutura de educação. Você não tem ideia do que é a sala de aula. O professor não tem mais esperança. Eu estudei para isso, acreditei e me deparo com essa situação”, afirma.

Flávia começou a dar aulas na década de 1990, na rede estadual. De lá para cá ela diz que muita coisa mudou. “Antigamente, quando havia um problema com o aluno, nós nos reuníamos e conversávamos sobre a situação. Hoje o professor não pode mais falar. Em algumas regiões ainda é pior, é um absurdo a violência. O professor não pode chamar a atenção porque tem medo da agressão lá fora”, diz a professora.

A presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, confirma essa situação. “Violência nas escolas antigamente era algo raro e hoje parece normal. Alguns alunos atacam os profissionais de forma verbal, física, atacam o carro do professor, riscam, furam pneus. É o tipo de situação que não pode acontecer”, comenta.

Pesquisa

Maria Izabel ressalta ainda que não há infraestrutura na maioria das escolas públicas estaduais para evitar problemas como esses. “Há um corpo de funcionários que deveria estar na escola diariamente. Seguranças para fazer a ronda, um profissional para ficar no portão e evitar a entrada de pessoas estranhas à escola... e hoje não temos esse efetivo”, comenta a presidente.

“E o resultado dessa falta de cuidado com a instituição e com a pessoa é o adoecimento desse profissional. A pesquisa realizada pelo sindicato em conjunto com a Unifesp e a Dieese constatou que 57% dos professores tiveram problemas com estresse e todos esses se afastaram. E outros novos não entram para substituir. Com isso, temos também que conviver com a falta de professores nas escolas”, diz Maria Izabel.

Por isso, a presidente diz que, para garantir melhorias para a categoria, o sindicato luta para implementar a jornada do piso salarial. ”Atualmente, o professor entra 32 vezes na sala de aula e fica oito fora. A ideia é que ele entre 26 vezes e fique 14 fora, para preparar aulas, estudar, se aperfeiçoar. Dessa forma, o estímulo é outro”, comenta.

A escola

Maria Izabel afirma ainda que entre as lacunas que devem ser sanadas na educação pública de grande parte do país, em especial na rede estadual paulista, está a estrutura da escola. “A escola que temos hoje é a mesma que Dom João trouxe para o Brasil na época do Império: lousa e apagador. Os governos não inovaram nada e o aluno não tem mais estímulo”, diz.

“Culpa do professor? Jamais. Temos um avanço na informática, poderíamos dar aulas incríveis. Mas não temos infraestrutura para isso. O aluno é do século 21, a escola que não é”, completa.

Para ela, diversas questões devem ser reavaliadas para valorizar os professores e atrair jovens para a carreira. “Hoje ninguém mais quer ser professor”, diz afirmando ainda que esta é, em sua visão, a profissão mais importante, pois é ela quem forma todas as outras. Entretanto, reestruturação da carreira, melhores salários, melhor jornada de trabalho, investimento na carreira e na formação são as mais urgentes, avalia Maria Izabel.

Neste dia dos professores, “pouco temos que comemorar, mas manifestar, muito”, finaliza a presidente do sindicato estadual da categoria.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que a valorização dos professores está entre as prioridades do governo. A pasta diz ainda que “desenvolve um conjunto de medidas voltadas não só para a maior eficiência na sua gestão de recursos humanos, mas também para a melhoria das condições de saúde de seus profissionais”.

Entre as medidas destacadas pelo órgão estão programas de assistência médica preventiva, como o Programa São Paulo – Educação com Saúde, cujo objetivo é oferecer assistência médica preventiva aos servidores da Educação no seu próprio local de trabalho.

Reportagem especial

A nova série de reportagens especiais do Jornal da Band, que vai ao ar desta segunda até sexta às 19h20, vai mostrar uma visão realista dos professores brasileiros. A série “Professor ameaçado” abordará, entre outros temas, a crescente violência protagonizada pelos jovens e revelar o ambiente frágil e vulnerável das escolas brasileiras.

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