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Seg, 20 de Agosto 2012 - 17:38

O colapso da educação paulista

Salário baixo, currículo inadequado e falta de estrutura permanecem no estado mais rico do país, afetando a juventude.

Por: Flaviana Serafim - CUT/SP 16/08

Salário baixo, currículo inadequado e falta de estrutura permanecem no estado mais rico do país, afetando a juventude.

Professores dedicados, mas sem salário digno e sem plano de carreira atrativo; e estudantes com interesse no aprendizado, porém prejudicados com as constantes aulas vagas e com a precária estrutura. Um governo estadual descomprometido com o desenvolvimento da educação no estado mais rico do país faz com que o ensino público seja um dos grandes desafios em São Paulo.

O professor Carlos Guimarães, conselheiro da APEOSP e membro do Coletivo de Juventude da CUT/SP, é dos milhares de profissionais que enfrenta a difícil rotina da escola pública. Ele afirma que o problema não está nos professores e nem na escola, mas, sim, na proposta que o governo estadual do PSDB tenta implementar em São Paulo. “Não é um proposta construída democraticamente, pois em nosso estado não existe o fórum estadual de educação onde se possa discutir e construir o currículo e um plano de carreira que valorize os trabalhadores da educação. A falta de compromisso na aplicação da lei do piso salarial, que garante que 1/3 jornada seja destinado à atividades extra classe, tem levado os trabalhadores a exaustão".

Guimarães afirma que há um gargalo no sistema oficial de ensino do Estado de São Paulo e, por não haver concursos públicos periodicamente, a situação se agravou ainda mais quando o ex-governador José Serra sancionou a lei 1093 em 2009, que dispõe sobre a contratação por tempo determinado. “Houve a criação da categoria ‘L’ e da categoria ‘O’ para precarizar tanto no sentido salarial, como das condições no local de trabalho e no exercício da profissão, rebaixando os direitos destes contratados na tentativa de dividir a categoria. Quando o professor é contratado há atraso de pagamento de até três meses. Às vezes é necessário entrar com recurso para receber vale-transporte porque o governo paga depois de três meses, mas só paga o valor referente ao terceiro mês, e o contratado é impedido utilizar o hospital do servidor público”, denuncia.

Professor eventual, educação inconstante, governo ausente

E. S., de 11 anos, é estudante da 5ª série na Escola Estadual Professora Eulália Silva, no Jardim Margarida, região do Jardim Angela, zona sul paulista. Questionada sobre como seria sua escola ideal, ela responde que “seria melhor com menos aula vaga”. E completa: “Tem dias que praticamente não tenho aula e, quando há professor eventual, é a maior bagunça na sala. É como se fosse aula vaga do mesmo jeito porque só copiamos um texto, o professor dá um visto ou um ponto positivo e nada mais. Os estudantes ficam ouvindo funk, ouvem música com som alto e o professor fica sem condição de controlar a sala”, critica a estudante.

Ela conta que faltam professores em várias disciplinas desde o início do primeiro semestre, e as constantes aulas vagas causam vários transtornos, além da educação ineficiente. “Nas aulas vagas, às vezes dá encrenca porque quase sempre tem briga. Tem estudantes que acham bom não ter aula para ficar sem fazer nada, mas penso que isso só nos prejudica. Alguns ficam conversando o tempo todo dentro da sala, outros circulando pelos corredores, sentados nas escadas porque não há nada para fazer. Nas aulas vagas também tem acontecido roubo de cadernos e apostilas, ou mochilas reviradas, carteiras jogadas no chão”.

Quando as aulas vagas são no final do horário escolar, o transtorno atinge, ainda, os pais que são contatados pela diretoria para que busquem seus filhos na escola. Devido ao compromisso com o trabalho e à distância da escola, nem sempre os pais e mães conseguem buscar os filhos e a segurança se torna mais uma preocupação.

Com chão esburacado e paredes sujas, atualmente, a Escola Estadual Professora Eulália Silva passa por uma reforma e, sem espaço para acomodar os/as estudantes adequadamente, há um “tipo um rodízio porque a cada dia vamos para uma sala diferente”, conta E. S. “Ficamos trocando de sala, às vezes ficando num espaço bem pequenininho para 44 estudantes. Além disso, a quadra de esportes é imunda. O professor é ótimo, mas não dá pra sentar no chão da quadra para fazer atividades. Para fazer aula tem que colocar colchonetes e nem sempre tem em quantidade suficiente para todas as crianças”, revela a estudante.

Currículo estadual é “injetado”, ignorando participação de professores, estudantes e comunidade

Para Carlos Guimarães, o governo estadual não se preocupa com os estudantes da periferia e nem com os que estudam nos bairros mais estruturados ”porque não oferece políticas públicas que incentivem os jovens a produzir cultura, conhecimento e educação. O governo faz uma injeção do que tem em mente e muitas vezes não é o que o estudante, a escola e a comunidade pensam. Isso acontece não só na capital, mas em todo o estado”, afirma.

O professor aponta também a grande precarização do estímulo à cultura, principalmente no interior do estado. “Falta estímulo aos pontos de cultura locais, faltam equipamentos como teatros e parques que garantam espaço às manifestações regionais do interior paulista. A falta de políticas com esse olhar causa grande retrocesso na forma como se tem a visão da educação”, avalia Guimarães.

“A educação é a base, o princípio da transformação de qualquer ser humano. Quando se tem uma educação desenvolvida junto com a comunidade, é possível afastar o jovem da criminalidade e da violência. Mas em São Paulo o governo empurra a delinquência e a criminalidade para os jovens”, finaliza o professor.

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