A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo vai reforçar, a partir do ano que vem, o ensino das disciplinas de sociologia, filosofia e artes. Para isso, vai cortar o número de aulas de matérias que tradicionalmente caem mais no vestibular. No período diurno, a alteração acarreta diminuição de 25% na carga horária de história e 14% na de geografia ao longo do ensino médio, além da extinção do apoio curricular para estudantes do terceiro ano -disciplina obrigatória de aprofundamento, com seis horas semanais, que ajudava na preparação dos alunos para o vestibular.
Já no período noturno, a mudança provoca a diminuição nas aulas de língua portuguesa e matemática. Na prática, com as alterações, o Estado de São Paulo põe as disciplinas de artes, filosofia e sociologia com a mesma carga horária que física, química, biologia, história e geografia -duas horas semanais em cada série, no diurno e no noturno.
Para Emerson Teodoro, diretor do cursinho popular 20 de Novembro, que atende a alunos da rede estadual, a mudança é preocupante, uma vez que tira matérias importantes em todos os vestibulares para dar ênfase a artes, sociologia e filosofia, que aparecem como coadjuvantes nos exames. “A preparação para o vestibular será comprometida. A defasagem [com relação às escolas particulares] é clara.”
Maria Izabel Noronha, presidente da Apeoesp (sindicato dos professores estaduais), diz que falta um debate audacioso, inclusive sugerindo o aumento da carga horária. “A proposta pedagógica do Estado não está bem desenvolvida. O quadro curricular não deve ser tratado como um joguinho de xadrez”, diz.
Em nota, a secretaria informou que as alterações visam equilibrar o desenvolvimento das áreas do conhecimento. A pasta disse ainda que as alterações foram decididas a partir de reuniões que tiveram a participação de mais de 20 mil profissionais. “Ficou estabelecido também que nenhuma disciplina teria menos de duas aulas semanais”, disse a secretaria.
MUDANÇA DE PLANOS
As mudanças divergem da proposta inicial da secretaria que foi discutida neste ano pelas escolas da rede. O plano preliminar previa a redução da carga de aulas de português e matemática para o ensino médio diurno.
Além disso, o aluno do terceiro ano poderia escolher disciplinas mais voltadas à carreira que prestaria no vestibular, optando por uma das três ênfases: linguagem; matemática e ciências da natureza; ou ciências humanas. Na época em que o debate foi revelado pela Folha, em setembro deste ano, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) reagiu e se mostrou contrário à diminuição das aulas de português e matemática.