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Qui, 24 de Outubro 2019 - 15:48

A DURA ARTE DE SER PROFESSOR NO BRASIL: PAÍS É LÍDER NO RANKING DE AGRESSÕES CONTRA DOCENTES

Gisella Meneguelli - Revista GreenMe - 23.10

 
 
 
Uma pesquisa feita Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil na triste posição de líder em agressões contra docentes
 
Foi-se a época de respeito ao professores. Hoje, no Brasil, eles têm sido inclusive atacados por representantes dos governos, em um discurso, infelizmente, aceito de forma acrítica por grande parte da sociedade.
 
O reflexo desse ataque é mostrado em números que revelam que 12,5% dos professores brasileiros relatam ter sofrido agressões verbais ou intimidação de alunos ao menos uma vez por semana.
 
Além das agressões, as condições de trabalho dos docentes, como, por exemplo, a situação desses profissionais no Rio de Janeiro, em cujas escolas eles têm de conviver com conflitos armados e ameaças de estudantes, familiares e de membros da comunidade.
 
O estresse a que são submetidos os professores têm provocado uma onda de afastamento para tratamento de saúde. Em 2018, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro concedeu 3.055 licenças por transtorno, depressão e esquizofrenia - número correspondente a 8% do quadro de professores do município.
 
O programa da EBC, Radio Nacional Jovem, conversou com com o psicanalista Flávio Calile sobre essa pesquisa da OCDE. Na opinião dele:
 
"O professor sofre muito com a violência, com calúnia, com difamação, até às vezes xingamento. A própria pressão do ambiente de trabalho é uma violência contra ele. Entre os alunos mais jovens, nós temos aqueles que xingam o professor, aluno que pressiona ele por conta de nota. Então, é essa pressão moral mesmo, essa violência moral que os professores sofrem em sala de aula. E quando o professor não cede a essas questões ele acaba sofrendo violência física".
 
A violência que chega à escola tem origem em outros ambientes, sobretudo, a casa das crianças e dos jovens. Como existe desrespeito na família, ele é naturalizado e levado à escola como uma prática mediadora das relações.
 
A diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, analisa que:
"Nossa profissão é tão desvalorizada que alunos e pais se acham com pleno direito de nos agredir. O governo precisa entender que a violência vem de fora para dentro da escola e isso não muda com militarização".
 
No Distrito Federal, 97% dos professores da rede pública já presenciaram algum tipo de violência, sendo que 57% foram vítimas dela. Segundo o Sinpro-DF, cerca de 40% das agressões são cometidas pelos próprios alunos e 20%, pelos pais.
 
Algumas pessoas têm acreditado que o modelo de escola cívico-militar, proposto pelo governo federal, pode conter a onda de violência nas escolas. O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto para criar 216 escolas nesse modelo até 2023. As regras para os estados e o DF aderirem ao modelo foram definidas no decreto, as quais têm sido rechaçadas pelos entes federativos, informa a revista Veja. A razão disso é que, como diz Corrêa, a violência não nasce na escola, mas chega até ela. Para contê-la é preciso que haja um programa complexo de efetivo combate às suas causas.
 
Escola democratizada
 
O chefe da divisão de inovação e medição de progressos em educação da OCDE, Dirk Van Damme, tem uma outra visão sobre o resultado da pesquisa: "A escola hoje está mais aberta à sociedade. Os alunos levam para a aula seus problemas cotidianos", disse à BBC Brasil.
 
Um dado revelado pela pesquisa é que, apesar dos problemas, os professores gostam do seu trabalho, mas "não se sentem apoiados e reconhecidos pela instituição escolar e se veem desconsiderados pela sociedade em geral", diz o levantamento da OCDE.
 
Van Damme destaca que a valorização dos profissionais é fundamental para o desenvolvimento dos sistemas educacionais. Isso passa por melhores condições de trabalho, melhores salários, melhoria na infraestrutura escolar, plano de carreira para o magistério, formação continuada.
 
Dados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDEs) da Presidência da República, referentes a junho de 2019, mostram que a remuneração média dos professores brasileiros é de pouco menos de R$ 1,9 mil por mês. Já a média salarial dos professores dos países da OCDE é de US$ 30 mil (cerca de R$ 68,2 mil - o equivalente a R$ 5,7 mil por mês), o triplo do valor pago pelo Brasil.
 
A OCDE menciona a relação dos países asiáticos com os professores, o que demonstra o êxito deles na pesquisa, já que na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice de violência aos professores é zero.
 
"Em países asiáticos, os professores possuem uma real autoridade pedagógica. Alunos e pais de estudantes não contestam suas decisões ou sanções", pontua Van Damme.
 
É triste constatar que temos poucas esperanças, já que no nosso horizonte a valorização em educação foi retirada da pauta das políticas públicas no Brasil com a PEC 55 - a PEC do congelamento dos gastos públicos em educação e saúde por 20 anos, aprovada em 2016.
 
Mesmo com a mudança de governo, a PEC continua sendo levado a cabo, até mesmo porque o atual presidente, então deputado em 2016, votou favorável a ela.
 
Ao que tudo indica, o Brasil seguirá liderando um ranking do qual não temos nenhum orgulho.
 
 
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