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Observatório da Violência

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Sex, 24 de Maio 2013 - 15:09

Alunos denunciam venda de drogas dentro de escolas em Bauru, SP

Estudante em recuperação disse que usou pela 1ª vez aos 11 anos. Três em cada 10 professores já presenciaram consumo de entorpecentes.

A violência nas escolas tem se tornado assunto frequente nos meios de comunicação em geral. É estudante agredindo professor e professor fazendo boletim de ocorrência na polícia contra aluno por agressão. Além disso, em vez de livros são as drogas que têm preenchido a rotina de alguns estudantes nas escolas de Bauru e região.

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) divulgou uma pesquisa neste mês sobre a violência nas escolas. Quase metade dos professores entrevistados relata que já sofreu algum tipo de agressão. A pesquisa ouviu 1,4 mil pessoas em 167 municípios do estado.

Para 95%, os maiores responsáveis são os próprios alunos e apontam o uso de drogas e de álcool, o tráfico de drogas e a briga de gangues como situações que geram violência nas escolas. Os alunos são as maiores vítimas da violência: 83%. E para três em cada 10 professores afirmaram ser comum presenciar tráfico de drogas ou alunos sob efeito de bebidas alcoólicas nas escolas que lecionam.

Brigas entre alunos e crimes mais graves estão ocorrendo nas escolas. Dos professores da rede estadual, 44% deles dizem ter sofrido algum tipo de agressão física ou verbal. Para 35% dos educadores entrevistados, os pais ou os responsáveis são quem deve resolver a violência praticada pelos filhos. Outros 25% acham que a escola também tem papel decisivo. E para 19%, o governo do estado tem que tomar medidas mais efetivas.

Um dos alunos, que estuda em escola de Bauru, teve as primeiras experiências com maconha e cocaína aos 11 anos. “Eu via muita gente usando aí teve um dia que eu fui experimentar e peguei o vício", contou. Hoje com 13 anos, o garoto está livre das drogas e vive em um abrigo que acolhe jovens com problemas familiares. Outro rapaz, de 17 anos, também mora na instituição e precisou da ajuda dos educadores para largar o vício e voltar ao normal. “Depois que eu comecei a usar droga veio o nervosismo. Qualquer coisa eu brigava, discutia. Eu roubava também”, afirmou.

Apenas o acompanhamento psicológico não é suficiente para contornar as situações. "A gente faz o contato deles com a família. É todo um trabalho feito por uma equipe para que ele volte a ter uma vida normal”, explicou a coordenadora de acolhimento institucional, Celenita de Oliveira Coelho.

Uma atitude presente dos pais pode fazer a diferença. Todos os dias, a psicóloga Renata Crosara Sebastião chega 20 minutos antes do horário de saída das aulas para buscar a filha. "Tem muitas pessoas aí que vêm na porta. Por mais que a gente explique em casa sempre tem uma coisinha ou outra que escapa", alertou.

As preocupações de pais cautelosos são similares à dos policias da Ronda Escolar da Polícia Militar. “É responsável pelo policiamento nas imediações externas dos estabelecimentos de ensino. Seja estadual, municipal ou da rede particular de ensino. Coibimos todo e qualquer tipo de ilícito penal, seja tráfico de drogas ou de qualquer natureza", avisou o capitão da PM, Ézio Vieira de Melo.

Tráfico de drogas
É por volta de meio dia que os policiais da Ronda Escolar têm mais trabalho. A aglomeração de jovens na hora da saída favorece a atuação de traficantes no meio dos alunos. Mas eles não agem apenas nos portões. Estudantes afirmaram que é possível comprar drogas dentro de escolas públicas. Um adolescente disse que os negócios costumam ser feitos sempre com a mesma pessoa. "Geralmente é uma só. Um aluno”.

Às vezes, as drogas são consumidas dentro da própria escola. "Tem gente que vai passando um para o outro para o inspetor não ver, fuma lá dentro também", completou o aluno. E o poder público está ciente da situação. Tanto é que existe uma estratégia para combater as drogas na escola. "A questão do envolvimento com drogas, a gente pensa na prevenção pensando na saúde e também a questão do desempenho desse aluno no processo de ensino e aprendizagem”, disse a diretora regional de ensino, Gina Sanchez.

Não é difícil entender porque o estado levanta a bandeira da prevenção. Basta analisar a trajetória de jovens que se deixaram levar pela droga e que ficaram pelo caminho. "Eu fico muito preocupado porque agora eu estou recuperando. Parei de usar droga já. Aí eu vejo eles usando e tento falar para mudarem, mas eles não querem saber. Não vou usar mais drogas e quero terminar meus estudos, arrumar um emprego, fazer um curso profissionalizante e montar minha oficina", contou um jovem que está em recuperação.

Orientação
De acordo com o sociólogo Vitor Machado, as famílias têm deixado para as escolas o papel da educação que deve ser ensinada dentro de casa. “As famílias têm delegado muito para a escola esse papel. E a escola parece que não tem dado muito conta dessa questão. O que a escola pode fazer para resolver isso? Penso que é a valorização da cultura popular. A gente conhece outros estudos em outros estados que diminuíram a incidência em relação à violência e às drogas valorizando a cultura popular. Mostrando que a escola é um espaço de cultura a ser preservado e que pode contribuir significativamente para a transformação da criança e do jovem”, informou.

Para tentar evitar que o aluno desvie o foco da educação para a violência e o consumo de drogas, o sociólogo acredita que uma relação mais próxima da escola pode amenizar o problema. “Apesar de a família ter transferido para a escola uma função que não é dela, que é aquela educação familiar que vem se perdendo ao longo dos tempos, penso que a escola pode resolver isso ouvindo o jovem, fazendo com que ele fale e se sinta pertencente à escola. O jovem não pode ser sentir como mais um presente em um lugar que não é dele”.

A vulnerabilidade também está relacionada com o distanciamento dos pais com os filhos. “Algumas coisas que a gente precisa mudar um pouco. Atualmente, o modelo de família mudou. Antes o modelo de família era patriarcal. Hoje esse modelo vem mudando ao longo dos anos. Hoje a criança é cuidada por um pai ou só pela mãe, ou pela avó, pelos tios ou até pelos irmãos”, alertou.

Já sobre a violência entre aluno e professor, na opinião de Vitor Machado, é necessário investir mais em trabalhos educativos. “Você não pode combater a violência com violência. Temos que combater a violência com educação. Nos trabalhos que são feitos na escola de prevenção à violência. Agora, o educador quando for agredido ele deve procurar a Delegacia Regional de Ensino para que possam estar sendo orientados de fato sobre o que fazer”, completou.

Mais informações e orientações para os pais de como lidar com situações difíceis com os filhos podem ser obtidas enviando um e-mail para conselhotutelar@bauru.sp.gov.br ou também pelo telefone (14) 3227-3339.

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