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Observatório da Violência

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Qua, 23 de Abril 2014 - 14:11

Homossexuais e negros são os mais discriminados

Bullying nas escolas

Pesquisa da Apeoesp, o sindicato dos professores de São Paulo, revela que mesmo com a ação de professores-mediadores, a discriminação está se disseminado nas escolas paulistas, mostrando a origem dos casos de bullying – a perseguição continuada.

O levantamento, feito em março e disponibilizado ao Diário na última semana, foi aplicado em todas as diretorias de ensino, inclusive Rio Preto, e mostra que as maiores vítimas são homossexuais e negros. Foram 2,1 mil entrevistados, entre eles 700 professores, 700 pais e 700 alunos.

No mesmo questionário, 36% dos professores disseram ter visto ou souberam de casos de preconceito contra homossexual, 29% contra negros e 18% contra nordestinos.

Em um caso recente, um aluno de 15 anos de Rio Preto chegou a levar uma faca de cozinha na escola para tentar se livrar dos abusos. O aluno do 1º ano do ensino médio da escola estadual Antônio de Barros Serra, no bairro Boa Vista, alegou que era chamado de homossexual, gordo e filho de lobisomen porque tem bastante pelo no braço. O adolescente foi ouvido e liberado e o caso encaminhado à Vara da Infância e Juventude.

Pai assassinado

Problemas como esse têm origem em ações como a do menino “Heitor” (nome fictício), de 12 anos. O estudante é novo “paciente” da professora-mediadora Cláudia Ferro Borges na escola Maria Galante Nora, em Rio Preto. A mudança de comportamento do menino começou há um ano, depois que ele perdeu o pai, assassinado. Desde então começou a demonstrar desinteresse pelos estudos e mal comportamento na escola.

“Ainda estou trabalhando com ele para melhorar isso. Aos poucos vamos conseguindo. Digo sempre que ele pode até desistir dele, mas eu nunca vou desistir”, disse Cláudia. “Fico quieto, mas a hora que eu embalo na conversa não paro mais”, revela o jovem com sorrido maroto.

Lembrando o caso Bruna

Na opinião da coordenadora regional da Apeoesp em Rio Preto, Alaíde Nicoleti Pinheiro, os pais são omissos, por isso cai sobre a escola o papel de ensinar e educar. “É inadmissível ainda existir isso. O que falta mesmo é melhorar a cultura para entender as modificações”, diz.

Para ela, sem educação dentro de casa a escola não consegue fazer com que o aluno tenha respeito. “Infelizmente o estudante acaba sendo educado pela vida. Não digo que a culpa é só dois pais, porque tem muitos professores que também são preconceituosos. Até o governo é discriminatório.Temos o caso da professora (a rio-pretense Bruna Giorjiani de Arruda), impedida de assumir cargo público sob a alegação de obesidade mórbida. É uma bola de neve”, diz Alaíde.

A mesma pesquisa revela também os professores também são vítimas de discriminação dentro das escolas – 37% dos 700 ouvidos responderam ter sofrido discriminação. O motivo do alto índice de vítimas, segundo a coordenadora da Apeoesp, é a falta de poder de poder que o professor tem dentro da sala de aula. “A escola vive num completo desmando. O professor não tem como exigir porque o aluno sabe que vai passar. Hoje o aluno vai à escola para passar o tempo, por isso sai de um ano sem condições de enfrentar um novo ciclo”, alerta Alaíde.

Mediadora ‘salvou’ aluna

Aluna de uma escola estadual de Rio Preto, Tatiana (nome fictício), com apenas 11 anos de idade já sentiu na pele o que é o racismo e o preconceito. Ironizada pelos colegas de sala pela cor negra e o corpo robusto a menina chegou a seu limite.

Boa aluna, não queria frequentar mais a escola por se sentir incomodada com as brincadeiras de mau gosto. Mesmo assim, trocou a denúncia pelo silêncio. Silêncio que só foi quebrado quando a mãe observou a mudança de comportamento da filha, ficou a par da situação e expôs o problema à direção.

As longas e privativas conversas com uma professora-mediadora têm dado certo. No colégio, ela ganhou a confiança dos alunos, o que é outra vantagem para conseguir resolver os conflitos. “Ela é meu escudo”, diz Tatiana.

Depois do trabalho da professora mediadora, a aluna parou de faltar e recuperou as boas notas. “Teve um dia que um aluno me chamou e macaca e de negrinha, quando chamei a atenção dele porque queria silêncio para copiar a matéria. Fiquei muito chateada, mas depois que a professora conversou comigo e com ele não fui mais xingada”, afirmou a jovem.

Cartilha contra o bullying

Para amenizar o problema, o Estado começou uma caçada contra o bullying. Os 128 professores-mediadores da região foram treinados no mês passado especificamente para coibir comportamentos discriminatórios, como racistas, homofóbicos, entre outros.

Com um caderno para anotações nas mãos, ouvidos apurados para entender os medos, incômodos e histórico do aluno, esse esquadrão de professores age como detetives e advogados. Tentam descobrir a origem do problema, colocar causador e vítima frente a frente e resolver a questão com amizade e muita conversa.

Tudo com apoio de uma cartilha contra o bullying. O livreto esclarece dúvidas sobre como identificar agressores e vítimas, qual é o comportamento dessas crianças e oferece dicas para auxiliar na superação dos problemas.

“A nossa principal função é ouvir o aluno. Temos esse tempo para saber exatamente qual o problema dele e descobrir a origem. Depois vamos dando direcionamento, como conversar com o causador, chamar os pais”, diz a professora-mediadora Cláudia Ferro Borges, a Claudinha, como é conhecida pelos alunos da escola Maria Galante Nora.

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