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Qui, 23 de Maio 2019 - 19:16

Massacres em escolas levantam debate sobre porte de arma por professores nos Estados Unidos

Profissão Repórter - 23.05

 
Profissão Repórter acompanhou por dois meses as consequências do massacre de Suzano. O programa também relembra os 20 anos de Columbine e mostra o polêmico debate sobre a presença de professores armados dentro das escolas.
 
O ataque a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, completou dois meses no dia 13 de maio. Dois assassinos mataram oito pessoas e deixaram 11 feridos pelos corredores das salas de aula.
 
Desde o primeiro dia do massacre, as repórteres Alana Oliveira e Sara Pavani acompanharam de perto o esforço dos familiares de vítimas e dos alunos para se recuperarem do ataque traumático.
 
Rhyllary Barbosa, de 15 anos, foi quem conseguiu abrir a porta da escola para que os alunos fugissem. "Tava todo mundo com medo. Em choque. Na hora que eu vi que o cara que tava com arma estava pra lá, porque ele queria matar meus amigos, eu falei 'agora ou nunca'", conta a estudante.
 
"Eu quero voltar lá, mas ao mesmo tempo que eu quero voltar, eu me pego pensando se eu devo, porque eu tenho certeza que na hora que eu pisar na calçada, já vai tudo passar na minha mente de novo", diz Rhyllary.
 
No dia 18 de março, a escola Raul Brasil abriu as portas pela primeira vez depois do massacre. Os alunos puderam pegar os seus pertences que ficaram para trás. Gercialdo Melquíades, o pai de Samuel Oliveira, um dos estudantes assassinados, ficou do lado de fora da escola consolando os colegas do filho.
 
Dez dias depois do ataque, é a primeira vez que os pais de Samuel saem de casa. "Se a gente puder de alguma maneira trazer esperança para as pessoas e ainda mais puder ajudar as crianças, a gente se sente bem, porque era a missão do Samuel. E a gente tá pegando essa missão para nós também", diz Gercialdo.
 
Foi só em 26 de março que as atividades na escola começaram a ser retomadas. Rhyllary não conseguiu ir. "Eu não senti que devo voltar lá. Eu ainda estou abalada com tudo o que aconteceu", conta por telefone. A aluna só voltou para a escola 22 dias depois do massacre.
 
Massacre de Columbine completa 20 anos em 2019
 
Há 20 anos, dois assassinos, que estudavam na Columbine High School, na cidade de Denver, nos Estados Unidos, entraram armados e mataram 13 pessoas. O caso marcou a história americana como o massacre de Columbine.
 
No local, há diversas homenagens às vítimas e declarações de estudantes, como essa:
 
Uma criança da minha idade não deveria ir a tantos funerais
— aluno de Columbine
Após este caso, foram registrados 230 ataques ou incidentes com armas em escolas primárias e secundárias americanas. O dado foi divulgado pelo jornal Washington Post, no dia 19 de abril. A crescente incidência de massacres em ambientes escolares fez a imprensa americana repensar como a cobertura jornalística deve retratar os casos.
 
Na Columbine High School, a escola não autoriza que jornalistas gravem dentro das dependências da instituição para preservar os alunos.
 
O repórter Estevam Muniz conversou com uma das alunas sobreviventes do massacre. Ela estava no colegial na época e hoje é professora. "Nos dias logo depois do massacre, professores e alunos se uniram. Acho que foi frustrante para alguns pais, porque tudo que as pessoas queriam eram ficarem juntas naquele momento", conta Heather Martin. "Eu fiz terapia. E me ajudou a saber que tudo aquilo que eu estava passando era válido e que eu não estava perdendo a cabeça."
 
Heather criou um grupo de discussão de sobreviventes à ataques em escolas chamado de "O Projeto dos Rebeldes". Ela diz: "Nós só queremos criar um sistema de apoio que não tivemos acesso em 1999. Nós sofremos, eu sofri por nove anos, eu não tinha com quem falar. Hoje, a gente entendeu que não somos psiquiatras, nem conselheiros, mas temos algo a oferecer, que é a nossa experiência."
 
Uma professora que esteve presente no massacre também conversou com Estevam. Ela lecionava literatura e está até hoje na Columbine High School e conta que ficou dois anos afastada da sala de aula. Sofreu de ansiedade e depressão.
 
"A gente ficava se perguntando quando as coisas iriam voltar ao normal. E nos avisaram que o normal se foi. A tristeza é normal, mas não dura para sempre. No primeiro instante que voltei para a sala de aula, eu pensei 'nossa, estou em casa, esse é o meu lugar, essas são as pessoas que eu amo'. Eu só precisava de uma pequena pausa", conta Paula Reed.
 
Estados americanos debatem porte de arma por professores em escolas
 
Também em Denver, o repórter Estevam Muniz foi até um Centro de Capacitação para policiais para acompanhar um treinamento de professores. Em 34 estados americanos já há previsão legal para que professores e funcionários portem armas dentro das escolas.
 
Tim Kistler é superintendente regional escolar e acredita que armar professores é a melhor forma de proteger estudantes.
 
"Eu acho que foi oito, dez anos atrás depois de Columbine, quando os ataques começaram a ficar mais frequentes. Nós sentimos que era o momento de perguntar para a comunidade se isso era algo que eles apoiavam. 78% disseram que sim."
 
No estado do Colorado, o educador precisa cumprir uma série de exigências para portar uma arma dentro da escola, como:
 
  • Licença para carregar armas;
  • Voluntariar-se para a coordenação da escola para carregar uma arma nas dependências do colégio;
  • Nome precisa ser aprovado pela direção e o conselho da escola;
  • Fazer um curso de três dias;
  • Passar em exames teóricos e práticos.
  • O professor também precisa manter o anonimato. Nenhum aluno ou funcionário pode saber qual adulto tem o porte de arma dentro da escola.
 
"Eu estou aqui porque quero ser útil na escola e quero manter as pessoas em segurança", diz a funcionária de uma escola que não pode ser identificada.
 
Em Newtown, no estado de Connecticut, Eric e Po fundaram um movimento contra armas, a Newtown Action Alliance. Ambos são pais de crianças que sobreviveram ao massacre de Sandy Hook, em 2012, quando 20 alunos de 6 e 7 anos e seis educadores morreram baleados.
 
"O problema disso é que as armas são muito eficazes, mas não tem eficientes para se defender. Os massacres acontecem tão rápidos que quando você tenta entender quem está tirando, o que está acontecendo, já acabou. Nós já vimos casos de seguranças armados esquecendo armas no banheiro e a arma foi encontrada por uma criança. Houve um incidente que um desses voluntários armados deixou cair a sua arma e ela disparou. Isso acontece. Vai ser outro desastre", diz Eric Milgram.
 
Para Po Murray "mais armas não trazem mais segurança. Todos os dados mostram que onde há mais armas, há mais mortes por armas".
 
Kiki Leyba, professor da escola de Columbine, também é contra a posse de armas por parte de professores. Era o primeiro ano que ele lecionava em Columbine quando houve o massacre. Neste dia, ele estava na sala de diretor para assinar o contrato de efetivo.
 
"Não é isso o que eu faço. Eu sou um professor. Eu não estou pronto para pegar numa arma e atirar em alguém. Essa não é a minha vocação. Eu teria escolhido ser um policial se essa fosse a minha vontade.
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