Qua, 22 de Março 2017 - 16:25
Abordagem das mulheres negras em livros didáticos é tema de mestrado na Unesp
Por: Ana Maria Lopes
A reduzida visibilidade das mulheres negras na História levou a professora Fernanda Gomes Françoso a pesquisar o assunto no seu mestrado na Unesp de Presidente Prudente. No próximo mês, Fernanda vai defender a tese "Os lugares de mulheres negras em materiais didáticos de História da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo".
Para investigar as representações raciais e de gênero que podem ser associadas às imagens das mulheres negras no período da escravidão brasileira, a professora analisou os Cadernos do Professor e do Aluno de 2014, elaborados para o oitavo ano do ensino fundamental, e materiais complementares de História do Programa Nacional do Livro Didático.
A promulgação da Lei nº 10.639 em 2003, que tornou obrigatória a inclusão do ensino da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares, ampliou o debate sobre a questão racial na sala de aula, mas ainda não solucionou a quase ausência de conteúdos que abordem criticamente a contribuição da mulher negra à sociedade brasileira.
"Sua história de luta e resistência fica pouco aprofundada ou até mesmo invisibilizada. O que esperamos com a pequisa é que a questão do racismo, do patriarcado, o machismo e o preconceito sejam debatidos na escola e na sociedade como um todo", explicou a professora Fernanda Françoso em entrevista concedida ao G1, no Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado em 21 de março.
A pesquisa foi pautada pelas orientações metodológicas da Análise de Conteúdo para a investigação dos materiais e teve como referencial teórico os Estudos Culturais sobre feminismo e questões raciais.
A professora constatou que, nas raras vezes, em que a mulher negra é focalizada nos “Cadernos do Professor e do Aluno”, as imagens a representam de forma subalterna e a abordagem didática caracteriza-se pela omissão das histórias sobre suas lutas e resistências.
Já nos livros didáticos distribuídos pelo PNLD, a pesquisa de Fernanda Françoso revela que algumas imagens estão em consonância com propostas de abordagem da história das mulheres negras. "Alguns textos explicativos e atividades permitem compreender que nem todas as mulheres negras foram passivas e submissas ao processo de escravidão, participando em diversas ações de resistência", explica a professora.
A pesquisa revela, entretanto que, mesmo quando há abordagem considerando questões de gênero e raça, ainda estão presentes as imagens que ressaltam a posição de vítimas, subalternas ou com fortes aspectos relacionados à sexualidade.
"Algumas propostas ainda permanecem com representações estereotipadas e reduzidas sobre este grupo social", lamenta a professora, que defende a atuação do professor para superar as lacunas do material didático, com olhar crítico e sensibilidade para não reproduzir estigmas.
SERVIÇO: Fernanda Gomes Françoso defende no dia 13 de abril a dissertação de mestrado "Os lugares de mulheres negras em materiais didáticos de História da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo", na Unesp de Presidente Prudente.