Qua, 04 de Setembro 2019 - 16:05
Por: Ana Maria Lopes
Professor de Educação Física desde 2014, Rodrigo Gonçalves Vieira Marques acaba de concluir o seu mestrado em Docência para a Educação Básica, na Unesp, onde pesquisa o ensino dos esportes coletivos nas escolas estaduais de São Paulo.
A tese "Conflitos nas aulas de Educação Física Escolar: reflexões assentadas na pesquisa-ação e na praxiologia motriz" concentra suas 228 páginas em um recorte investigativo focado nos jogos de handebol e futsal de duas turmas de 6º anos, de uma escola estadual do interior paulista.
"A minha tese tem uma visão crítica dos conflitos enquanto acontecimentos socioculturais, e não atribuindo toda a responsabilidade destas divergências ao professor de Educação Física', explica Rodrigo Marques, que jogou basquete, futebol e handebol durante a infância e adolescência.
Para coletar os dados sobre os conflitos, o pesquisador dedicou-se à observação das aulas, com foco nos diários do professor, com registros gerais e também anotações das rodas de conversa e encenações dos estudantes. Os diários dos estudantes, suas narrativas e um questionário também foram utilizados neste processo de pesquisa.
Chama a atenção no trabalho a diversidade de conflitos identificados nas aulas de Educação Física. "Classificamos nos seguintes grupos: ações motrizes (motora); egoísmo/não passar a bola; simulação/desrespeito às regras; pontuação do jogo; gênero (machismo); racismo, preconceito e discriminação devido à cor da pele; aspectos físicos; violência verbal e violência física", explica o professor.
Estudar os conflitos nas aulas de Educação Física, bem como, suas mediações, temática ainda pouco explorada na literatura brasileira, pode colaborar com a organização e intervenção docente nas aulas. "Há a possibilidade de uma ressignificação do conflito escolar entre os estudantes, sejam eles responsáveis ou vítimas destes conflitos no seu cotidiano. É uma estratégia educativa que não deve ser negada ou silenciada durante as aulas de Educação Física", acredita Rodrigo Marques.
A valorização durante a pesquisa de ações pedagógicas em que os estudantes participaram pode ter contribuído nesta ressignificação de valores, como a democratização e inclusão de todos nas práticas esportivas, independente das diferenças.
"O tema conflitos nas aulas de Educação Física era presente em minhas aulas, porém, a pesquisa proporcionou muitas reflexões e mudanças, na condição de docente na Educação Básica", explica o professor que, com o embasamento teórico e as reflexões que ocorreram durante a pesquisa, passou a observar e mediar de forma mais eficiente os conflitos com os estudantes.
O mestrado aprimorou as estratégias pedagógicas de Rodrigo Marques. "Hoje, sou um professor mais preparado para lidar com os conflitos em minhas aulas. Considero que a maior conquista que tive durante a pesquisa foram os relatos de estudantes que antes eram excluídos das aulas e que hoje participam. Um dos meus compromissos como professor de Educação Física é a democratização e inclusão nas práticas motrizes para todos e todas", conclui o pesquisador da Unesp.
SERVIÇO: A dissertação "Conflitos nas aulas de Educação Física Escolar: reflexões assentadas na pesquisa-ação e na praxiologia motriz" está disponível na íntegra no Repositório Institucional da Unesp:
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/183091