Qua, 13 de Março 2024 - 16:26
Dissertação na Unifesp avalia a incorporação do legado de Carolina Maria de Jesus ao currículo escolar
Professor de Geografia, Michael Dias de Jesus partiu das suas próprias experiências para mergulhar no protagonismo conquistado pela obra de Carolina Maria de Jesus na Educação, nos últimos anos.
Por: Ana Maria Lopes
O resultado é a dissertação "Práticas Pedagógicas Antirracistas: Vida e Obra de Carolina Maria de Jesus como conteúdo curricular na aplicação da Lei 10.639/03", apresentada à Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo, no vigésimo aniversário de promulgação da lei, celebrado em 2023.
Em sua pesquisa, Michael Dias ouviu professores(as) da Educação Pública que atuam na perspectiva antirracista e, consequentemente, utilizam a vida e obra da intelectual em sala de aula. O pesquisador é um exemplo deste brilhante trabalho que os educadores da rede pública vêm desempenhando. Responsável pelas atividades da Semana da Consciência Negra na escola em que leciona, Michael atua em sua carreira acadêmica em grupos de pesquisas e coletivos dedicados a relações étnico-raciais e tem até uma tatuagem em homenagem à escritora.
Em seu trabalho de conclusão de curso na Faculdade Geografia, o professor abordou a invisibilidade dos catadores de materiais recicláveis, trabalho desempenhado por Carolina Maria de Jesus em parte de sua vida.
Embora a pesquisa revele que a vida e obra da escritora têm sido cada vez mais utilizadas na aplicação da lei que prevê o ensino da história e cultura afrobrasileira, Michael Dias descobriu que o legado de Carolina Maria de Jesus ainda não é explorado plenamente.
"Muitas atividades mencionam apenas o livro 'Quarto de Despejo', o que não condiz com a herança literária e cultural deixada pela escritora, que tem outras obras em diversos gêneros, um disco e trechos de um documentário, disponíveis na Internet", explica o pesquisador.
O mestrado de Michael Dias de Jesus tem conclusões importantes para professores que atuam nas mais diversas disciplinas: 1) A Lei 10.639/03 tem sido relevante para práticas pedagógicas nas escolas públicas; 2) Carolina Maria de Jesus tem uma forte identidade com os(as) professores(as) e os(as) estudantes das escolas públicas; 3) A vida e obra da autora dialogam diretamente com os propósitos da Lei 10.639/03; 4) Carolina Maria de Jesus e seus manuscritos fornecem um vasto campo para estratégias de combate ao racismo nas escolas públicas; 5) A intelectual oferece ferramentas para trabalhar as questões corpóreas negras no campo da identidade; 6) A vida e obra de Carolina Maria de Jesus contribuem para práticas pedagógicas antirracistas.
Mas, a relevância da pesquisa já está prevista em suas primeiras páginas, na comovente dedicatória do autor. "Dedico esse trabalho a toda criança negra que teve seu direito de estudar interrompido pela violência racial e ao meu pai, um homem negro que não teve oportunidade de terminar a quarta série do ensino fundamental e que, em um período da sua juventude, foi submetido ao trabalho análogo à escravidão na cidade de Salvador", escreve Michael Dias.
Leia na íntegra a dissertação "Práticas Pedagógicas Antirracistas: Vida e Obra de Carolina Maria de Jesus como conteúdo curricular na aplicação da Lei 10.639/03" na Biblioteca Digital da Unifesp: https://repositorio.unifesp.br/
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