Qua, 22 de Julho 2015 - 16:06
Por: Ana Maria Lopes - APEOESP - 22/07/2015
Depois de pesquisar em seu mestrado a questão de gênero na prática esportiva, a psicóloga Ana Maria Capitânio dedicou sua tese de doutorado à influência do tema em sala de aula. "Gênero e Crenças Religiosas: a busca de sentido entre professoras do ensino fundamental I" é o título da pesquisa desenvolvida na Faculdade de Educação da USP.
O estudo envolveu cinco professoras do ensino fundamental I do ABC paulista, com o objetivo de revelar como educadoras de diversas religiões percebem as diferenças de gênero e os sentidos da prática docente. A pesquisadora explica que detectou, como professora universitária, a forma diferenciada que alunas dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas, muitas delas evangélicas, lidavam com questões de gênero.
"Para elas, alguns comportamentos eram esperados de meninos, mas não de meninas, e vice-versa. Por exemplo, é considerado muito natural um menino ser bagunceiro ou falar alto. Esquisito é quando uma menina é assim”, revela a pesquisadora.
Durante o trabalho, a psicóloga descobriu também escolas onde é comum rezar em sala de aula, mesmo sendo o Estado laico. “A oração era realizada durante a aula em uma escola pública, apesar da laicidade dela", conta Capitânio.
A psicóloga detectou ainda outro equívoco comum: a dificuldade de entender a diferença entre estudos de gênero e sexualidade. “Uma das professoras pensava que eu estava estudando sexualidades, e por isso ela começou a falar de uma menina que gostava de futebol, mesmo não havendo correlação entre gostar de futebol e orientação sexual".
A tese de 170 páginas foca também na influência da religiosidade. Entre as professoras que participaram da pesquisa, duas eram católicas, duas eram evangélicas e uma se considerava espiritualista. "Gêneros e crenças religiosas produziram significados que perpassaram as atitudes e comportamentos nos processos de interações sociais e nas práticas pedagógicas destas professoras", esclarece Ana Maria Capitânio.
A pesquisadora acredita que, em razão da desvalorização e precarização do Magistério, as professoras adotaram uma postura de sacerdócio ao seguir a profissão, para dar algum significado e estímulo à docência. "Não é uma postura totalmente positiva porque as professoras abandonaram uma visão crítica e de luta ao escolherem crenças religiosas para amenizar a realidade", analisa a psicóloga.
Ana Maria Capitânio defende em sua tese a importância de pesquisas que articulem gênero, religião e educação escolar. "São muitas questões que surgem na sala de aula como, por exemplo, o fato de que a diferença de gênero pode provocar desigualdade no tratamento e até na forma de avaliação de alunos e alunas", conclui a pesquisadora.
SERVIÇO: "Gênero e Crenças Religiosas: a busca de sentido entre professoras do ensino fundamental I", de Ana Maria Capitânio, está na Biblioteca de Teses e Dissertações da USP: www.teses.usp.br.