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Qui, 09 de Julho 2020 - 19:02

Professor de geografia analisa as competências socioemocionais na BNCC

Por: Ana Maria Lopes

 

Professor na EE Visconde de Congonhas do Campos, Marcos Rogério dos Santos acaba de concluir um artigo sobre as competências socioemocionais na implementação da BNCC.

O professor pesquisa o tema para sua especialização em Gestão Escolar, na Universidade Cidade de São Paulo.

A partir de dados coletados entre outubro e dezembro de 2019, Marcos Rogério concluiu que “a adoção das competências gerais da BNCC somadas à cultura digital e ao repertório cultural, são essenciais para transformar os adolescentes em protagonistas da ação educativa”.

Leia aqui a íntegra do artigo.

 

A URGÊNCIA DA ATIVACAO DAS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS EM TEMPOS DE IMPLEMENTAÇAO DA BNCC, COM ENFASE NOS ALUNOS DOS ÚLTIMOS ANOS DO CiCLO 2

                                                                           Marcos Rogério dos Santos1

                                                                                                                           

RESUMO: Neste artigo científico pretendo discutir através de experiências vivenciados ao longo de vinte anos de trabalho docente no sistema público de ensino, a necessidade de valorização das questões socioemocionais dos alunos , negligenciadas pela comunidade escolar. Tratadas como temas secundários ou para alguns professores tabus intocáveis onde a pedagogia tradicional ganha destaque exaltando-se as competências cognitivas e as habilidades padrão defendidas pelos pilares da educação como primordiais : _ leitura, cálculo e interpretação .A partir dessa análise elaboro reflexões sobre a necessidade de adoção de ações e práticas educativas contextuais conectadas às competências exigidas ao exercício pleno da cidadania, à solução de situações-problemas, ao trabalho colaborativo, ao dinamismo, à capacidade criativa, formuladores de instrumentos para que o aluno seja construtor de sua própria história. Foco este legitimado como diretriz por meio da promulgação da BNCC . A metodologia empregada para a coleta de dados foi a pesquisa por meio de questionário quali-quantitativo a um grupo constituído por 36 alunos, na faixa etária de 13 aos 15 anos, estudantes dois 8º e 9º anos, correspondendo a amostragem de 10 % do total de alunos do ciclo fundamental dois, posteriormente entrevistei-os em grupos menores compostos por 6 alunos, para melhor compreensão das opiniões expressas em suas respostas. A coleta de dados ocorreu no período de outubro à dezembro de 2019, anterior a implementação da Base Nacional Curricular. Os alunos participantes pertencem à Escola Estadual Visconde de Congonhas do Campo, localizada no bairro Tatuapé, zona leste do município de São Paulo. Os resultados desta análise demonstraram a importância da adoção das competências socioemocionais contidas nas competências gerais do BNCC, sem menosprezar a cultura digital o repertório cultural que também compõem a educação integral, demonstrar aos nossos adolescentes, enquanto protagonistas da ação educativa, a importância de decidir e produzir soluções para enfrentamento dos conflitos presentes nessa etapa da vida, estimulando seu crescimento pessoal e o compromisso interativo na construção coletiva do processo de ensino e aprendizagem.

Descritores: Ensino Fundamental 2. Competências socioemocionais, BNCC

1Professor de Geografia da Rede Estadual do Estado de São Paulo, aluno da Pós graduação no curso de gestão escolar na Universidade Cidade de São Paulo.

 

1. INTRODUÇÃO

  O presente trabalho faz uma abordagem crítico -reflexiva sobre as possíveis causas de deficiências dos alunos especificamente dos oitavos e nonos anos. A escolha desta etapa do ensino ocorre por três motivos, o primeiro por ser término de ciclo (ensino fundamental 2), onde é objeto de constantes aferições da qualidade de ensino através de indicadores como o SARESP e prova Brasil onde ambas compõem o IDEB. No caso da rede pública estadual paulista o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), faz uma análise do desempenho de cada escola da rede através dos resultados da avaliação do SARAESP e fluxo dos alunos (relação entre matrículas e evasão escolar de cada unidade de ensino). O segundo motivo da escolha do objeto de estudo está pautado nos resultados obtidos durante a coleta de dados, que apresenta a visão dos jovens estudantes acerca dos motivos de seu desinteresse e consequentemente de seu baixo desempenho escolar principalmente em relação às disciplinas enfatizadas nas avaliações externos. O último fator é justamente a faixa etária que compõem esse grupo estudado (justamente na adolescência 13 aos 15 anos).  A partir dessa análise constatei várias questões como a ausência de modelos pedagógicos e epistemológicos que valorizem o protagonismo dos estudantes especial mente no ciclo 2. A pedagogia baseada na prática docente diretiva é unilateral, privilegiando o detentor de conhecimento, infelizmente mesmo na sociedade contemporânea do século XXI ainda tem se mostrado dominante, segundo a percepção dos próprios educandos. Modelo atual é marcado pela ausência de autonomia do corpo discente, o autoritarismo dos mestres praticantes da ‘’ pedagogia da arrogância” e regime antidemocrático da gestão escolar,que muitas vezes preocupados com os resultados obtidos nessa classificação imposta pelos sistemas de avaliação governamental, baseado em metas a cumprir , instrumento este inserido em um contexto global que visa projetar investimentos externos de organismos internacionais em troca da vinculacao de projetos econômicos que visem o equilíbrio fiscal e a melhoria do I. D. H. principalmente no tocante ao item efucacao), assim tornando-se país atrativo a investimentos externos. Enquanto isso a autoestima do aluno é menosprezada , pois o que importa são os “ dados satisfatórios”, o alcance das metas estabelecidas, obtidos através das ações que valorizam apenas o egocentrismo de muitos professores, esse sim, considerados erroneamente sujeitos do processo ensino-aprendizagem nessa perspectiva vigente e a adoção de modelos com características verbalizadoras, verticais e desinteressantes em troca de resultados, posições melhores dentro desse sistema classificatório, que não considera as diferenças regionais dentro de um país continental como o Brasil, as diferenças culturais, de investimento governamental, as desigualdades da participação da comunidade, do acompanhamento do desenvolvimento da aprendizagem a quantidade elevada de alunos em cada sala de aula inviabilizando o atendimento individualizado como por exemplo de alunos com necessidade especiais como prega a LDBN 9394/96 art. 3 inciso III.

  Segundo Campos e Souza (2001, p.123-7) uma ação protagônica se caracteriza, quanto mais a participação dos adolescentes estiver dentro da possibilidade de autonomia, no entanto enfatiza que o principal padrão de relacionamento na adolescência é a colaboração, e que esta atitude autônoma não elimina o papel do educador como facilitador.

  No modelo tradicional adotado por muitas escolas, o aprender é sinônimo de austeridade, onde não há espaço para a afetividade. Visto que, os raros momentos de socialização entre os alunos são reservados aos momentos de intervalo ou no término do período de saída. Como expõe Snyders (2001, p. 313) que “a experiência do aluno tem necessidade da cultura [do saber ensinado], para sair da aproximação, para se desembaraçar dos estereótipos, para conseguir a síntese dos inúmeros acontecimentos que entreviu e para se libertar da pressão difusa das ideologias dominantes”., mas para que o protagonismo do aluno possa se realizar é preciso que seu professor também seja protagonista do próprio trabalho. Nesse entendimento, o papel do professor não é apenas o de transmitir conhecimentos, mas o de criar e oferecer condições que potencializem a aprendizagem e o desenvolvimento integral de seus alunos, buscando compreende-lo de forma integral, identificando as necessidades de desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional ,social, cultual estabelecendo uma relação mais igualitária e dialógica com seus alunos, reconhecendo seus saberes e legitimando a capacidade de contribuição com seu próprio processo de desenvolvimento.

  Nos dias atuais a presença das tecnologias e das telecomunicações trouxe nova dinâmica à maneira de se comunicar, de se informar e, sobretudo, de aprender, tornando um conhecimento descentralizado e fluido nas diversas linguagens e nos meios de comunicação, o professor tem hoje mais recursos para se posicionar como um mediador dessas várias oportunidades educativas e encontrar meios para se trabalhar de forma adequada quanto ao seu público alvo em sala de aula. Como afirma Paulo Freire no livro Pedagogia da autonomia, “educar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

  Nessa perspectiva, fica claro que o professor é autor, pois acompanha trajetórias singulares às quais dedica atenção de pesquisador, busca recursos diversos, cria cotidianamente novas possibilidades. É isso o que significa protagonismo do professor.

  A educação partindo de concepções da interação do sujeito com o objeto, não apenas do professor ou tão somente do objeto, enriquece autoestima dos atores, como também desperta para maior senso de responsabilidade do jovem que torna autor de suas próprias ideias e de novos conceitos, ou seja, torna-se protagonista de suas ações. Anuindo com esse pensamento, Petroni e Souza afirmam que:

  O sujeito autônomo, então, seria aquele que se percebe no mundo, que se torna ator e autor de sua história, consciente de que não está sozinho, vendo-se como diferente e aprendendo com as diferenças; aquele que dispõe de recursos para expressar-se livremente e ser compreendido pelo outro, em um exercício permanente do diálogo e da reflexão, em que exerce sua liberdade (PRETONI & SOUZA, 2010).

  A escola é um espaço de aprendizagem e importante também para socialização, articulação sobre temas e grupos e para desenvolver o protagonismo e autonomia dos alunos. É nela que as relações e as primeiras redes de apoio, para além da família, geralmente se formam. Dentro dessa rede, os estudantes podem dar sua opinião sobre diferentes temas, dialogar, desenvolver projetos e ter contato com novidades, pois a escola funciona como uma agregadora de oportunidades, onde se formam relações de confiança (amigos) e vínculos indiretos (conhecidos), é um caminho para apresentar experiências diversificadas e externas, ampliar os espaços da cidade ocupados pelos jovens da periferia e as possibilidades de educação e trabalho, tornando-se também protagonista de seu projeto político-pedagógico.

  No entanto, a escola se tornará um projeto coletivo, que é comum a todos os alunos, professores e famílias, todos interessados em produzir conhecimento, em se transformar mutuamente, ao mesmo tempo que transformam o lugar em que vivem e convivem. Visto que, quando isso acontecer, os professores deixarão de estar isolados em suas salas de aula e se verão membros de uma equipe, com um projeto coletivo, em uma comunidade.

  Diante o exposto questiona-se: Quais tipos de protagonistas que queremos formar no ensino fundamental 2, aquele com criticidade, criatividade, ou apenas aquele que aceita a subalternização dentro do âmbito escolar?

2. FASE DA ADOLESCENCIA E OS DESAFIOS DE EDUCACAO SIGNIFICATIVA

  A adolescência é uma categoria recente na história das sociedades ocidentais. De acordo com Silva (2000) adolescência é uma invenção social, gerada a partir do século XVIII, no período da Revolução Industrial. Pois, até o século XVIII, a adolescência era confundida com infância, já que o parâmetro utilizado era que a infância estava ligada diretamente na ideia de dependência familiar. Grossman (1998 apud FERREIRA; FARIAS, 2010, p.5), destaca que Rousseau considerava a adolescência o período de maior instabilidade e conflito emocional, os quais eram provocados pela maturação biológica. Ele considerava que as mudanças biológicas e as mudanças sociais estavam interligadas por uma mudança nos processos psicológicos, que incluía o desenvolvimento da capacidade de pensar com lógica. Gallantin (1978 apud FERREIRA; FARIAS, 2010, p..6), observou que para Rousseau o raciocínio era desenvolvido na adolescência, motivo pelo qual, aconselhava que a educação prosseguisse depois dos 12 anos.

  A adolescência tem sido chamada de fase “intermediária” do desenvolvimento, como afirma Minicucci (1985), pois fica entre a infância e a idade adulta, é um período de transição no qual o ser humano sofre grandes mudanças biológicas, cognitivas, sociais e psicológicas. Stanley Hall (1904 apud SPARTA 2003, p. 10), afirma “a ideia de crise no período da adolescência, inevitavelmente tumultuado, conflituoso e tenso. Visto que é nesta fase que ocorre o período necessário para que o cérebro infantil se transforme em um cérebro adulto ocasionando transformações nas competências cognitivas, sociais, emocionais, onde os neurônios, axônios, neurotransmissores e sinapses são personagens principais. A adolescência fase correspondida à etapa do CCLO 2 de ensino exige desafios especiais por se tratar da fase conflituosa como afirma os autores supracitados. O jovem aluno enfrenta a instabilidade emocional característica da fase de vida que atravessa e necessita de estímulos, resignificação dos códigos, situações que estimulem seu lado criativo e emocional . A dopamina deverá ser considerada, pois situações pedagógicas e didáticas repetitivas causam desinteresse e muitas vezes indisciplina.

  Sendo um neurotransmissor de suma importância nesta fase a dopamina que está relacionada com o chamado sistema de recompensa, que é um circuito neuronal no cérebro que influencia diretamente as nossas emoções. Esse sistema garante a motivação para realizar certas atividades, como a sensação de felicidade quando comemos ao ter fome. Quando os neurônios desse sistema são ativados, eles liberam a dopamina em regiões específicas do cérebro, que é responsável por passar a sensação do prazer e de motivação das pessoas, e quando ocorre o desequilíbrio entre um sistema de dopamina na fase da adolescência o jovem tende a se entediar com grande facilidade tendo a escola como um lugar entediante, ou seja quando ocorre o inverso e o conteúdo a ser aprendido na escola não possui relação com o contexto do aluno, o mesmo acaba por “decorar” as informações, e com o passar do tempo esquece tudo que foi trabalhado causando desinteresse nos estudos, apatia e desmotivação . Como reforça Antunes (2002, p. 29):

  [...] os saberes não se acumulam, não constituem um estoque que se agrega à mente, e sim há a transformação da integração, da modificação, do estabelecimento de relação e da coordenação entre esquemas de conhecimento que já possuímos, em novos vínculos e relações a cada nova aprendizagem conquistada.

  É o aluno o responsável final pela sua aprendizagem ao atribuir significado aos conteúdos dados em sala de aula , no entanto é o professor que determina as atividades que os alunos deverão desenvolver, podendo inovar novas práticas pedagógicas que possam demostrar interesses dos mesmos, como por exemplo: conhecer as dificuldades e habilidades de seus alunos, pois cada perfil de estudante possui um jeito de aprender, se faz necessário aulas cada vez mais voltadas ao perfil da turma pois tendem a ser mais engajadoras, o uso da tecnologia que é aliada ao ensino, pois a geração atual de alunos nasceram na era digital e possui uma facilidade absurda com ferramentas tecnológicas, então essas ferramentas quando direcionadas para a educação aceleram o processo de aprendizagem e interesse do estudante.

  Outra estratégia que poderá ser utilizada é a curiosidade para prender a atenção da turma, inserindo o conteúdo no mundo deles, fazendo relações com séries, filmes e situações do cotidiano, e ter uma boa relação entre professor e alunos, pois é fundamental para que eles se sintam à vontade na sala de aula para perguntar e se entreter na explicação e construir uma relação de confiança e respeito. A instituição de ensino deverá oferecer e valorizar atividades que promovam interação, criação e colaboração entre os discentes. Afinal, a socialização é o agente construtor da nossa realidade e o posicionamento da escola quanto a esse assunto é fator determinante para o desenvolvimento cognitivo e social do aluno.

  No entanto, fica evidenciado que o potencial de aprendizagem de um aluno constitui-se da soma da capacidade cerebral de processar as informações, com a capacidade de interação com o meio onde se está inserido em um processo intermediado pela ação pedagógica do professor.

  Vygotsky (1996, p. 11 apud DOS ANJOS, 2013), afirma que o desenvolvimento dos interesses é a chave para entender o desenvolvimento psicológico do adolescente. Dos Anjos, afirma também que o desenvolvimento dos interesses constitui, em maior escala, o conteúdo do desenvolvimento social e histórico do que simplesmente o conteúdo do desenvolvimento biológico. Tal asserção legitima o caráter cultural e histórico do indivíduo. E como educadores necessitamos conhecer todo o processo histórico desse adolescente, em especial aquele que compõe a instituição escolar pública, e está diretamente sob nossa responsabilidade para o processo de formação humana.        

  A instituição escolar é uma das principais medidas protetivas para crianças e adolescentes e atua ainda como uma das principais agentes de apoio social na vida do(a) estudante vulnerável. Visto que o mesmo, convive com pessoas de diferentes contextos, deve seguir regras e respeitar os outros. Sabemos que é importante para o(a) adolescente que apresenta problemas de comportamento encontrar na figura de um adulto alguém que o acolha, que dê uma base do apoio social e segurança, escute os seus conflitos e o(a) ajude no enfrentamento das adversidades. Acredita-se que para ajudar o estudante, a instituição de ensino da rede pública deve promover atividades pedagógicas que estimulem o compromisso e a responsabilidade com a sociedade em que o indivíduo esteja inserido, envolvendo em especial a tomada de decisões, a autonomia e se tornando protagonista do seu bem-estar, pensando de forma coletiva.

  Portanto o aprender na escola precisa acontecer de forma significativa, despertando o interesse do aluno, dessa maneira a apropriação do conhecimento não pode partir do nada, mas sim do conhecimento prévio, dos interesses e das experiências dos alunos. A aprendizagem torna-se significativa quando o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento dos alunos passando a adquirir significado para ele ao manter relação com a sua vivência. Como afirma Gómez (1998, p. 38), ao comentar sobre a aprendizagem significativa de Ausubel, dizendo que “a aprendizagem significativa está na vinculação substancial das novas ideias e conceitos com a bagagem cognitiva do indivíduo”.

3. INTER-RELAÇÃO ENTRE AS COMPETÊNCIAS DO BNCC E A PEDAGOGIA DA FELICIDADE

  Durante pesquisa in loco umas das conclusões formuladas foi que o aluno adolescente sendo um ser social, valoriza as relações socioafetivas, senti falta do professor “provocador”, aquele docente articulador do conteúdo cognitivo aos saberes empíricos . Gerando debates , despertando a autonomia para que o estudante construa soluções coletivas, onde suas habilidades e competências socioemocionais sejam representadas na sala de aula.Segundo Snyders “a escola não dever ser um lugar triste e austero, mas sim lugar de alegria e descobertas”.

  De acordo com Snyders a busca da alegria na escola é mais um elemento de luta contra a dominação e exploração, a segregação escolar, os fracassos escolares das classes dominadas. A busca da pedagogia da felicidade não é somente momentânea, obtidas através de atividades de lazer, mas que em nada modifica a realidade que o aluno está inserido, para Snyders a escola deve proporcionar ao aluno o conhecimento verdadeiro da cultura elaborada. Diante disso, o aluno pode dar novo sentido a sua vida participando nas lutas do seu tempo. Para que a cultura seja transformadora o professor deve acreditar em si, o entusiasmo cultural e no potencial de seus alunos. A troca de experiências constantes, o colaborativíssimo constroem o conhecimento bilateral , além disso a competência do professor deve ser enfatizada, outro ponto importante é que o professor deve ser mediador, incentivador, acreditar , introduzir discussões diálogos e confrontos, encaminhando os alunos a formas de atitudes as quais eles não chegariam por si mesmo.Assim , para ele é importante que o professor faça o menos possível de intervenções, deixado o aluno livre para aprender verdadeiramente. Questionados sobre as razões de suas dificuldades, algumas respostas justificam a necessidade da transformação metodológica de uma aprendizagem verbalizado para um método democrático e participativo.

 Luana, 9 º B, 15 anos, afirma que os professores valorizam os alunos mais inteligentes, quando realizam debates interrompem as ideias dos alunos, desestimulando a participação. Outro aluno Henrique 8º F enfatiza que as aulas são cansativas, pois os professores não realizam atividades diversificadas.

 Questionados sobre o desempenho em Língua Portuguesa e Matemática, a grande maioria dos alunos ressalta que os exercícios já estão propostos e que não há contextualização das situações-problema assim as matérias ficam distantes de suas realidades. Conforme a expressão de Pedro 9ºA e Talita 9ºC;” A professora de Matemática aplica contas que não entendemos pois não entendemos os exemplos que ela nos passa”

 A ausência de contextualização da mediação e aceitação das experiências e do currículo oculto se torna fundamental para a adoção de métodos construtivistas de aprendizagem. Tais atitudes reforçam a segregação social, a apatia dos adolescentes e o desinteresse pela escola, vista por eles como apenas transmissora de conhecimentos.

 Aprovada em 2018, a BNCC (Base Nacional Curricular Comum), está em fase de implementação em salas de todo o país. Escolas das redes públicas e particulares deve tê-la como referencial em seus currículos até o início do ano letivo de 2020. A adoção desse documento direcionado para o ensino Básico, para a garantia da aprendizagem justa, democrática e inclusiva, somente surtirá efeito se o currículo oculto for considerado, se a construção do conhecimento for coletiva, pois nada adianta a implementação de disciplinas eletivas, aumento da carga horária, de novas ferramentas tecnológicas como defendem pedagogos progressistas se persistir o autoritarismo, a vaidade docente, a preocupação com metas pré-estabelecida das pelo governo para o controle da qualidade de ensino, sem a devido preocupação com a felicidades dos atores envolvidos no processo. A segunda competência estabelecida pelo BNCC, - Pensamento científico, crítico e criativo, será fundamental para o desenvolvimento do aluno em suas outras competências não somente as cognitivas, mas também socioemocionais que caracterizam a formação integral do aluno como propõe esse documento   em busca da ruptura com a educação bancária.Hoje ao concluir esse artigo pude ter certeza do quão importante são as relações socioemocionais, por força da situação da pandemia , professores e alunos se aproximaram, embora na distância do isolamento social. As competências digitais se entrelaçou aos saberes cognitivos acadêmicos , a criatividades dos atores do processo ensino-aprendizagem está sendo praticada e poderá se tornar uma tendência imposta também pelo adoção do BNCC, pois não cabe mais um professor que desconhece seu papel social. O porquê ensinar? O porquê ser professor. A formação constante do corpo docente também deve ser reformada, considerar outras competências e novas habilidades. O “professor GLS”, giz, lousa, saliva tende dar lugar ao profissional antenado aos novos saberes, compromissado com a pedagogia da felicidade, onde o aluno alcance a satisfação das descobertas transformadoras, da criticidade reflexivas que autonomia composta dentro de práticas inovadoras pode proporcionar ao cidadão dinâmico consciente de suas potencialidades. Essa consciência só será alcançada pelo colaborativismo de todos os atores da comunidade escolar.

  Outro fato detectável nesta pesquisa é que dentro da complexidade dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem as inovações necessárias em sala de aula e a ruptura do modelo imposto pela educação bancaria não ocorrerá do mesmo modo , na mesma intensidade, pois as salas de aulas são compostas por grupos de culturas e opiniões hetregeneas , no entanto a diversidade é previsível e benéfica para a construção conjunta de saberes socioemocionais e cognitivos significativos

4. METODOLOGIA

  O presente artigo se refere a uma pesquisa de campo cujo método proposto é a coleta de dados através do questionário com perguntas fechadas e pesquisa em artigos científicos, visando compreender o processo de investigação sobre os estudos já realizados referentes à temática.

  Segundo José Filho (2006, p.64) “o ato de pesquisar traz em si a necessidade do diálogo com a realidade a qual se pretende investigar e com o diferente, um diálogo dotado de crítica, canalizador de momentos criativos”. A tentativa de conhecer qualquer fenômeno constituinte dessa realidade busca uma aproximação, visto sua complexidade e dinamicidade dialética.

  Segundo Gonsalves (2001, p.67), A pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto de informações a serem documentadas [...].

  Para conduzir tal pesquisa foram levantados a seguinte questão: Quais tipos de protagonistas que queremos formar no ensino fundamental 2, aquele com criticidade, criatividade, ou apenas aquele que aceita a subalternização dentro do âmbito escolar? A busca dos estudos foi consultada nas bases de dados elencados: SCIELO – Scientific Eletronic Library Online (http://www.scielo.org/php/index.php); MEDLINE – Medical Literature Analysis and Retrieval (http:// http://bvsalud.org/); LILACS – Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (http://lilacs.bvsalud.org/); e GOOGLE ACADÊMICO (https://scholar.google.com.br/).

  A seleção do material ocorreu nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, em: artigos, livros, teses e dissertações, referente a possibilidades de protagonismo entre os alunos do ensino fundamental 2, agrupando-se as palavras-chave: Ensino Fundamental 2. Protagonismo Escolar. Praticas pedagógicas

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

  A construção de uma proposta pedagógica em torno dos adolescentes estudantes, público alvo, integrantes do 8º ao 9º ano do ensino fundamental 2 de escola pública no período vespertino, buscou pensar estratégias de trabalho para inserir essa temática, tão importante quanto desafiadora.

  Ao se engajar nessas novas práticas, o(a) adolescente precisará vislumbrar e cogitar o futuro, porém a figura de pessoas que apoiem e ajudem a organizar toda a trajetória: de que modo o adolescente conseguirá alcançar sua autonomia? Quais os limites e possibilidades que tem? O que precisa fazer para superar os limites e conflitos? Nesse sentido, esta pesquisa levou os estudantes a repensarem a vida e o contexto social no qual estão inseridos, desenvolvendo o protagonismo como fonte de atuação nessa realidade. Visto que, nos dias atuais relação do professor com a aprendizagem mecânica é proveniente de sua formação acadêmica, e a mudança dessa concepção é um importante passo para reeducar a escola na aplicação de um processo de construção de conhecimento significativo.

  Demo (2004, p. 60) define aprendizagem como “processo dinâmico, complexo não linear, de teor autopoiético, hermenêutico, tipicamente interpretativo, fundado na condição de sujeito que participa desconstruindo e reconstruindo conhecimento”. Dessa maneira, pode-se considerar o ato de conhecer como um questionamento, sendo um processo dialético de desconstruir e reconstruir o conhecimento. A aprendizagem reconstrutiva destaca-se pelo desafio de reconstruir o conhecimento através do processo educativo, pois aprendemos a partir do que já tínhamos aprendido.

  De modo reflexivo procurou-se destacar a importância do Protagonismo escolar para o desenvolvimento da sua identidade, bem como a autonomia e a perspectiva de um futuro com qualidade de vida. No decorrer da pesquisa os estudantes tiveram a oportunidade de debater sobre sua história, vivências e questionamentos em relação as problemáticas enfrentadas e assim se posicionar enquanto agentes transformadores dessa realidade. Sugerir aos adolescentes, que sentissem o desejo de expressar seus sentimentos, podiam se manifestar falando, argumentando e discutindo através das rodas de conversas.

  Afirmaram o desejo de participarem mais ativamente das aulas, de escolher temas a serem abordados por exemplo em debates nas aulas de história, de temas pertinentes a seu perfil fossem abordados pelos docentes. Das entrevistas surgiram inúmeras ideias de inovação, como a elaboração de um espaço de convivência e palestras com temas sobre sexualidade, gravidez na adolescência, drogas, digital influencers entre outras.

  Constatei a grande expectativa do corpo discente pela implementação de novas disciplinas curriculares relacionadas às competências socioemocionais em 2020.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

  Os objetivos propostos nesta pesquisa de ver a autonomia como uma contribuição para o desenvolvimento da identidade do adolescente de escola pública foram alcançados de maneira satisfatória, pois a escola, naquele momento tornou-se um lugar privilegiado, favorável à construção do ser humano como um aprendizado na vida pessoal e social dos adolescentes, um processo de construção consciente e interligado com tudo o que ele recebe no decorrer da sua história de vida.

  Um diferencial na pesquisa se deu pelo fato de que alguns alunos do Ensino Fundamental 2 tiveram grande interesse em participar, visto que enfrentam conflitos próprios da adolescência,como por exemplo cobrancas, pressões por desempenho e definição precoce do curso que irá estudar, onde sua sexualidade é reprimida pelo menos pelos pais , onde sua felicidade em aprender também é reprimida por praticas centras apenas em resultados, onde o processo “ o caminho “ dessa aprendizagem torna-se repetitiva e verticalizada.

  Com a implementação de novas práticas pedagógica e com a realização de atividades que ajudem o aluno a desenvolver a capacidade autônoma, estimular a criatividade e melhorar a cooperação na sala de aula com certeza irá desenvolver em nossos adolescentes a capacidade de interação com o mundo a sua volta tornando-os construtores de sua própria história, tendo autonomia, pensamento crítico, empatia e respeito pelo outro e compromisso na construção de uma sociedade justa e igualitária, com autoestima para escolher interferir na realidade que o cerca, construindo vínculos positivos superando os fatores de risco e a insatisfação com essa realidade.

 

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Celso. Novas maneiras de ensinar, novas formas de aprender. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Campos M, Souza V. Medindo o protagonismo juvenil. In: Costa ACG. O protagonismo Juvenil passo a passo – um guia para o educador. Belo Horizonte: Universidade; 2001. p. 123-7.

Davidoff, Linda L. Introdução à Psicologia. 3ª ed. São Paulo. Editora McKron Books Ltda., 2001.

DEMO, Pedro. Aprendizagem no Brasil: ainda muito por fazer. Porto Alegre: Mediação, 2004.

DOS ANJOS, Ricardo Eleutério. O desenvolvimento psíquico na idade de transição e a formação da individualidade para – si: aportes teóricos para a educação escolar de adolescentes. UNESP – Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Araraquara, São Paulo, 2013.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educaiva.43 eds., São Paulo: Paz e Terra, 2001.

Petroni, A. P. e Souza, V. L. T. (2010). As relações na escola e a construção da autonomia: um estudo da perspectiva da Psicologia. Psicologia & Sociedade, 22(2), 355-364.

SNYDERS, Georges. Para onde vão as pedagogias não-diretivas? 3. ed. São Paulo: Centauro, 2001.

Esta é a versão em HTML do arquivo http://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/piana-9788579830389-06.pdf.

Revista UNINGÁ, Maringá – PR, n.31, p. 149-157, jan./mar. 2012

 

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