Qua, 25 de Junho 2025 - 20:28
Doutorado da Unifesp revela a dor do preconceito através das 'cores da cultura escolar'
Keila Rodrigues apresentou ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unifesp, a sua tese de doutorado, "As cores da cultura escolar: naturalização do preconceito e da discriminação étnico-racial em impressos educacionais paulistas (1902–1918)".
Por: Ana Maria Lopes
Professora da rede estadual e gestora da rede municipal de ensino de São Paulo, Keila Rodrigues apresentou ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unifesp, a sua tese de doutorado, "As cores da cultura escolar: naturalização do preconceito e da discriminação étnico-racial em impressos educacionais paulistas (1902–1918)".
A tese de 219 páginas, concluída no último mês de março, foi iniciada em 2021, ainda em meio às limitações impostas pela pandemia do Covid-19. É uma pesquisa que dá continuidade a outro relevante trabalho acadêmico, "O infiltrado: Benedicto Galvão - a trajetória escolar e profissional de um aluno negro (1881 – 1943)", dissertação de mestrado também apresentada à Universidade Federal de São Paulo, em agosto de 2019, e editada em livro pela Editora Appris.
A ideia de analisar o impacto dos materiais didáticos e do ambiente escolar na construção e permanência de estereótipos e exclusões, especialmente em relação à população negra, surgiu a partir das experiências da própria pesquisadora.
"Menina pobre, estudante de escola pública desde a década de 1980, descobri a dor de ser negra na escola. A partir dos conflitos com minhas características fenotípicas - com herança predominantemente africana - fui levada a me aprofundar nas relações étnico-raciais", conta a professora que pesquisa o efeito do material didático na psiquê da criança e do adolescente.
Ela descobriu que a presença de crianças negras (ou da população negra em geral) era pouco frequente nos materiais didáticos e, nas raras vezes em que havia representação, era comum a ausência de nomes próprios e o tom depreciativo.
"Muitas personagens são identificadas apenas por sua cor ou condição, em adjetivos como "negrinha", "crioulinha" ou "pretinha". Em outras fontes, como os livros didáticos da Série Puiggari & Barreto, os termos tornavam-se ainda mais pejorativos - 'negro sujo', 'repugnante', 'preta velha'", descreve a autora na tese que analisa especialmente a Revista de Ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, e a literatura infantil e didática por ela recomendada para escolas primárias e normais paulistas nas duas primeiras décadas do século XX.
"O recorte temporal (1902-1918) coincide com debates intensos sobre a inserção social de ex-escravizados e seus descendentes e também com a disseminação de teorias racistas e projetos de branqueamento da população brasileira", explica a pesquisadora.
A professora-doutora pretende levar o estudo, que integra a área da História da Educação, às escolas. "Quero promover um espaço de diálogo com professores e professoras da rede pública, seja em formato presencial ou virtual", explica.
As pesquisas acadêmicas de Keila Rodrigues comprovam que a temática das relações étnico-raciais na interface com a cultura escolar permanece atual e relevante.
"Durante muito tempo, práticas e conteúdos discriminatórios foram naturalizados e disseminados não apenas nas escolas, mas também nos lares, por meio dos materiais impressos que circulavam amplamente nos espaços sociais. Por isso, é importante continuar revisitando o tema", conclui a pesquisadora.
SERVIÇO: "As cores da cultura escolar: naturalização do preconceito e da discriminação étnico-racial em impressos educacionais paulistas (1902–1918)" está disponível no Repositório da Unifesp:
Contatos com a professora-doutora Keila Rodrigues,