Seg, 22 de Setembro 2025 - 16:24
Não copiar a pergunta da lousa estimula criatividade e capacidade de produção textual dos alunos
Pesquisa da FFLCH mostrou que "resposta completa" também é um texto, que treina escrita e organização do pensamento
Pesquisa da FFLCH mostrou que "resposta completa" também é um texto, que treina escrita e organização do pensamento
Por: Isadora Batista / Portal FFLCH/USP - Divulgação Científica
A gramática costuma estar entre as maiores dificuldades dos alunos na disciplina de Língua Portuguesa nas escolas. Uma pesquisa da FFLCH buscou ensinar a gramática a partir de respostas completas às questões propostas, sem frases isoladas e sem a necessidade de copiar a pergunta.
A autora da dissertação, Jussara Pereira Monteiro de Araújo, é professora na Escola Municipal de Ensino Fundamental Oswaldo Samuel Massei, no município de São Caetano do Sul, e realizou a pesquisa com 25 alunos de duas turmas do 6º ano durante 3 meses.
Na dissertação de mestrado intitulada "É pra copiar a pergunta?": atividades epilinguísticas na elaboração de resposta escolar completa, a pesquisadora pretendia fazer com que os alunos refletissem mais sobre suas escolhas gramaticais e desenvolvessem uma escrita consciente para, futuramente, produzirem textos mais complexos e desenvolverem habilidades para vestibulares, redações e vida profissional.
Jussara já incentivava seus alunos a não copiarem a pergunta desde que produzissem respostas mais longas. A insegurança em expressar o que queriam responder através da escrita foi uma das dificuldades dos alunos. "A ideia era desenvolver isso para que [no futuro] eles possam estar mais conscientes do que estão escrevendo, das escolhas lexicais que fazem, diante do que eles querem dizer", aponta.
Para Jussara, os alunos têm mais contato com as diferentes possibilidades de vocabulário quando produzem respostas completas, com começo, meio e fim. "A língua portuguesa traz inúmeras possibilidades de escolha. E a ideia é que o aluno saiba disso e cada vez mais desenvolva essa capacidade de registrar no papel o pensamento".
Durante a correção dos textos produzidos pelos próprios alunos, a professora escolhia algumas respostas para colocar no quadro e, coletivamente, analisavam se estavam coerentes e adequadas ao que foi perguntado.
A correção coletiva ajuda na percepção do papel de adjetivos, advérbios e complementos verbais no sentido do texto. "Nós íamos negociando os sentidos. 'Essa resposta está condizente com o que está perguntando? Ela é suficiente? Traz toda a informação que precisa?' E aí eu ia falando de gramática, de como modificar esse verbo, como fica a resposta com o advérbio e sem, ou com o adjetivo e sem, como é importante esse adjetivo na construção de sentido", explica.
A pesquisa mostra que a gramática passa a fazer mais sentido quando vinculada à produção textual do próprio aluno, mas Jussara não descarta totalmente o uso de frases isoladas, elas só não devem ser a única forma de ensino.