Ter, 28 de Outubro 2025 - 15:21
Pesquisa que propõe práticas antirracistas na pedagogia vence o V Prêmio Vladimir Herzog
Fabiana Rodrigues foi campeã na categoria de Educação com a pesquisa produzida no Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades
Por: Isadora Batista - Divulgação Científica / FFLCH-USP
A aluna egressa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Fabiana Rodrigues da Silva, venceu o V Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos Unicamp-Instituto Vladimir Herzog, na área de educação. A pesquisadora foi premiada por sua dissertação de mestrado Corpografias negras: Afetividades e pedagogias emancipatórias em prática antirracistas, defendida em dezembro de 2024 e orientada pelo professor Diego dos Santos Reis.
O Prêmio é uma iniciativa da Unicamp e do Instituto Vladimir Herzog que reconhece pesquisas de graduação, mestrado e doutorado em diferentes áreas, com o objetivo de fortalecer o compromisso entre a universidade pública e a sociedade na defesa dos direitos humanos das gerações do presente e do futuro.
A pesquisa analisou narrativas criadas sobre pessoas negras, pensando o racismo estrutural e institucional no processo de formação, e defendeu a mudança nas formas de representação das pessoas negras e indígenas.
Fabiana Rodrigues relatou suas vivências pessoais e de seus familiares durante o período em que frequentavam a escola. Um exemplo pessoal foi quando ela se formou na Educação Infantil e a equipe docente da creche penteou seu cabelo a seco, anteriormente preparado de cachinho em cachinho pela mãe, para a foto com a beca, momento que ficou marcado no coração de sua mãe. Ela também compartilha a experiência do seu filho, uma criança negra que precisou realizar tratamentos e mudou diversas vezes de instituição de ensino.
"Principalmente na educação infantil, crianças negras são menos tocadas e recebem menos afetos". A pesquisadora explica que isso acontece porque as professoras de educação infantil partem de estereótipos que colocam as crianças negras como menos delicadas e limpas do que as brancas. Para ela, é importante "entender que todos estão aprendendo a partir do toque e se a criança entende que o corpo dela é rejeitado, ela vai crescer se rejeitando também".
Fabiana explica que todo conteúdo que é visto e consumido constrói um pensamento e, por isso, os desenhos que as crianças consomem desde cedo vão contribuir para a formação delas. "Então se você vê o tempo todo, no desenho, o personagem com a boca grande, o nariz gigante, a pele retinta, preta, sem nenhuma outra tonalidade, isso vai gerar estereótipos. Isso vai nutrir o racismo recreativo que adolescentes e principalmente crianças sofrem".
Em livros didáticos, é comum a ausência de pessoas negras sendo retratadas e, quando são, aparecem em lugares subalternos, como empregadas domésticas e porteiros.
Para a pesquisadora, esses imaginários coletivos devem ser recriados a partir de novas narrativas positivas: "A recriação dos imaginários é a partir das representações positivas de imagem, de escrita, de fala, daquilo que veicula em mídia, nos livros e também no acesso, porque precisa ver as pessoas nesses lugares. Nós precisamos existir em outros lugares e não nos lugares que esperam nos encontrar".
Utilizando o termo "pedagogias emancipatórias", a autora defende práticas de aprendizagem que promovam ferramentas para o desenvolvimento de pensamento crítico e transformação social contra todas as formas de desigualdades sociais/raciais e de gênero/sexualidade. Para isso, ela sugere uma curadoria na biblioteca das escolas para revisar os materiais ali disponibilizados e implementar livros com mais temáticas racializadas, autores negros e ilustrações não esteriotipadas.
Fabiana entende que existem três linhas de frente para combater esse racismo estrutural no processo formativo: referência bibliográfica reformulada, um currículo articulado à Lei nº 11.645/08, que exige o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, e a formação continuada dos professores.