Ter, 14 de Outubro 2025 - 14:26
Professor doutor, Arthur Daltin analisa a contradição das plataformas e celulares nas escolas
Com mestrado e doutorado em História pela Unesp, o professor Arthur Daltin Carrega experimenta em seu trabalho na EE Profª Leny Barros da Silva, localizada em Assis, o impacto das plataformas e do uso contínuo de celulares sobre a rotina escolar.
Por: Ana Maria Lopes
Inspirado por esta realidade, em rápida e constante mudança, o professor escreveu o artigo "Celular de Schrödinger", em referência à famosa experiência do físico Erwin Schrödinger, do gato preso a uma caixa, que está vivo e morto ao mesmo tempo. Graças à teoria que gerou uma equação da Mecânica Quântica, o físico austríaco ganhou um Prêmio Nobel.
Leia aqui o artigo do Professor Arthur Dallin Carrega, publicado exclusivamente pela APEOESP, "Celular de Schrödinger".
Os estudantes das escolas públicas do Estado de São Paulo vivem uma situação esquizofrênica no seu dia a dia porque são, ao mesmo tempo, proibidos e obrigados a utilizar seus aparelhos celulares.
Proibidos pelas leis federal e estadual promulgadas no início de 2025 e que chegaram com bastante otimismo aos professores que, finalmente, teriam algum apoio diante deste problema, mas obrigados pela flagrante falta de estrutura, que cria a ilusão de que o sistema precisa ser tecnológico, sem oferecer os equipamentos necessários.
Décadas de sucateamento e precarização nunca garantiram as melhorias necessárias para que os professores trabalhassem e a solução da secretaria da educação foi mudar o conceito e transformar o processo pedagógico em um amontoado de plataformas com aulas online, que os estudantes são obrigados a acompanhar, para posteriormente serem avaliados por uma inteligência artificial.
Mais que isso, o problema procura ser resolvido no grito,como se a cobrança - supostamente típica do mundo corporativo - fosse aumentar a produtividade de um professor que simplesmente não tem o material necessário para desempenhar essa função.
Os professores, por sua vez, estão sendo avaliados da mesma maneira, por um software que identifica sua presença ou trabalho apenas através de relatórios gerados automaticamente a partir daquilo que o próprio professor preenche no diário digital. Não importa o que aconteceu dentro da escola de fato, diário preenchido é aula dada, diário em branco é uma falta computada. Em outras palavras, a tecnologia que, segundo o próprio Currículo Paulista, deveria ser uma ferramenta de apoio, se transforma em uma arma de repressão.
Mas deve-se lembrar que a pior parte é que os equipamentos necessários para desempenhar esta função sugerida pelo Estado ainda não existem nas unidades de ensino. Os maiores prejudicados, de novo, são os alunos, que sem entender essa complexa relação entre a necessidade do uso pedagógico de seu aparelho e a legislação vigente sobre esse mesmo artefato, acabam dispersando naquilo que o mundo os oferece: games de passatempo, reels infinitos de redes sociais e até a ilusão do enriquecimento através de apostas.
Cada vez mais desiludidos com o processo de aprendizagem se entregam às armadilhas da globalização e dos subempregos - dignos sim, mas de baixa remuneração – que garantem alguma renda. Não se trata, portanto, de demonizar a tecnologia ou negar a importância do celular como recurso pedagógico. O que se reivindica é que seu uso esteja inserido em um projeto educacional consistente, que ofereça infraestrutura, formação adequada para os professores e clareza de objetivos.
Quando bem orientado, o celular pode ser uma ponte entre a escola e a realidade dos estudantes, um instrumento de pesquisa, comunicação e criatividade. Sem essas condições, no entanto, ele continuará sendo apenas um símbolo da contradição entre o discurso modernizador do Estado e a precariedade vivida cotidianamente na sala de aula.
Voltando aos professores, na linha de frente, eles ficam mais uma vez de mãos atadas, não podem impedir o uso, uma vez que precisam ter aparelhos por perto para cumprir as tais metas - que, vale a ressalva são ilusórias e não têm nenhuma preocupação didática -, mas se sentem inseguros em incentivar o uso deste material, uma vez que os pais e a comunidade em geral - com razão - cobram que as leis sejam cumpridas.
Os celulares e a tecnologia estão na sala e, ao mesmo tempo, não existem!.